Gramofone

Por Larissa Mendes

 

BANDA DO MAR – BANDA DO MAR

 

Banda do Mar

 

2008: a música une o casal Fabrizio Moretti e Binki Shapiro ao hermano Rodrigo Amarante para formar o Little Joy, uma das “bandas de um álbum só” mais promissoras do universo musical da década.

2014: a música (re)úne o casal Marcelo Camelo e Mallu Magalhães ao baterista português Fred Ferreira para formar a Banda do Mar e lançar seu primeiro álbum, quiçá um dos mais fofos do ano.

Se, na ocasião, afirmei que o Little Joy “parecia perfeito para ser ouvido numa tarde ensolarada na estrada, rumo à praia ou à cachoeira mais próxima”, o mesmo reitero em relação à Banda do Mar.

Semelhanças e coincidências à parte, o grupo apresentou no final de agosto o primeiro registro do encontro, disponível na loja virtual do iTunes. O álbum físico será lançado em setembro pelo selo Zé Pereira (de Camelo) e distribuído pela Sony Music. O trio luso-brasileiro, que tem turnê agendada para os próximos meses nas principais capitais, acaba de lançar o videoclipe oficial da canção Mais Ninguém, cantada por Mallu e “dançada” por Fezinho Patatyy e toda trupe do mar, filmado numa grafitada Lisboa, onde Mallu e Camelo viveram por mais de um ano (para manter as comparações, o vídeo lembra vagamente a sátira brasileira de One Way Trigger, do The Strokes, banda de Moretti, no clipe com os bonecos de festa infantil).

 

Camelo, Fred e Mallu/Foto: Divulgação

Camelo, Fred e Mallu / Foto: divulgação

 

Camelo abre os trabalhos com a faixa Cidade Nova, onde brada “eu não deixo o tempo parar” e enfatiza a proposta de sua nova aventura musical: “eu só trago o mar de algum lugar comigo”. Mais Ninguém (preciso me fazer só/pra me fazer maior), um dos singles pré-divulgados antes do lançamento do álbum, juntamente com o pop-rock Hey Nana – que lembra muito um Camelo nos áureos tempos de Los Hermanos –, têm bateria marcante e suingue suficiente para tornarem-se hits. Se em Muitos Chocolates Mallu avisa que além do doce, precisa de cafuné e massagem no pé, na marchinha Mia, ela conta a história de outra manhosa gata de hábitos peculiares. O folk quase autobiográfico Me Sinto Ótima (cansei de carregar milhões de medos/das pessoas que me cercam e me pesam de agonia/eu já tenho lá os meus anseios, os meus receios/que eu perco com a luz do dia) e a destemida Seja Como For (não tenho medo de rato nem barata/meu bem, você pra mim é privilégio/sorte grande de uma vez na vida) nem lembram a menina tímida que cantava em inglês em 2008, por julgar mais sonoro.

É inegável que as melhores canções do álbum ficam a cargo das sempre inspiradas composições de Camelo, sobretudo nos versos das mansas Pode Ser (pode ser o seu tamanho/ou o jeito que você erra/no momento em que eu te ganho/ou no barco que te leva) e Dia Clarear (se você jurar eu posso até te acostumar/numa vida mais à toa/é só você querer que tudo pode acontecer/no amor de outra pessoa/base de um descanso milenar). Na libertária Faz Tempo, o compositor procura um lugar ‘na cidade ou no litoral’ e termina com um versinho em ritmo de Jovem Guarda. Solar, outro ponto alto do álbum, é uma daquelas canções-hino que se tem vontade de cantarolar na autoestrada, rumo à mesma praia do Little Joy. E a Banda do Mar(celo) despede-se literalmente com Vamo Embora, “que eu tenho meu encontro feito com um mar de pérola” e “o tempo que eu tenho é pra voar”.

Se os músicos não inovam esteticamente nas 12 faixas e soam como continuidade de Sou (2008) e Toque Dela (2011), de Camelo, e Pitanga (2011), de Mallu, ao menos eles trazem o seu melhor – e isso não é pouco. Fred Ferreira completa o trio cedendo toda a experiência percussiva e eletrônica dos coletivos Buraka Som Sistema e Ovelha Negra, num frutífero intercâmbio Brasil-Portugal. A capa do álbum é assinada pela fotógrafa Bruna Valença e traz um negativo vencido da modelo Camilla Baldin. Decididamente, a Banda do Mar não tem prazo de validade. É som que não morre na praia.

 

 

 

Larissa Mendes não sabe nadar, mas se amarra em surf music e Iemanjá.

 

 

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