Por Larissa Mendes
SILVA – DE LÁ ATÉ AQUI (2011-2021)
O cantor, compositor e instrumentista capixaba Silva celebra uma década de serviços prestados à música brasileira (boa parte deles registrados pelo Gramofone) com um álbum de releituras de suas canções. Como bem disse o artista em um de seus tweets: “10 anos é muita coisa. Mas é só o começo também”. Sem delongas, de forma orgânica, com voz e violão — e no máximo com um violino ou um “tecladinho”, o mesmo que o consagrou no início de carreira, quando disponibilizou o EP Silva (2011) na internet — o disco passeia por uma dezena de anos de seu (já vasto) repertório. De Lá Até Aqui (2011-2021) compila 10 faixas acústicas sem ordem cronológica, sem obviedades e (quase) sem hits: novos arranjos dão frescor a algumas parcerias, covers e b-sides.
A única canção inédita, Pra Te Dizer Que Tô Feliz Assim (meu caminho não é reto pra lá/ninguém me falou onde é que ia dar/eu saí com a certeza de errar/cheguei pra não voltar), abre o álbum sintetizando a própria trajetória de criador e criatura, que tem suas raízes calcadas na música erudita, porém já transitou por diversos gêneros. Canções recentes como No Seu Lençol, do antecessor Cinco (2020), mesclam-se com outras antigas como Cansei (cansei dos inquilinos/da minha solidão/olhar você dormir/não é compensação), do álbum de estreia Claridão (2012), que aqui despe-se de toda sua roupagem eletrônica, ficando impressionantemente ainda mais bonita. Fazem parte do álbum também versões de músicas um pouco mais populares, inicialmente lançadas em parceria, caso de Um Pôr do Sol na Praia, gravada com a funkeira Ludmilla em 2019, e Pra Vida Inteira, dueto com a baiana Ivete Sangalo, em 2020.
Os destaques ficam a cargo de Não É Fácil, do impecável repertório de Silva Canta Marisa (2016), e o “achado” Amantes (eu conto as horas/que faltam para o dia que vem/não quero mais/dividir esse amor com ninguém), canção de 2000 do grupo de axé Ara Ketu, que como o próprio nome sugere, aborda as agruras de não ser o(a) parceiro(a) oficial de seu grande amor. A canção fazia parte dos shows da turnê de Bloco do Silva – Ao Vivo (2019) e aparece completamente repaginada da original — com uma intro a la Roberto Carlos — e talvez soe inédita para grande parte do público. Completam o álbum Ainda, de Vista Pro Mar (2014), que mantém o mesmo ar intimista, e Sou Desse Jeito, de Júpiter (2015), que perdeu todos os sintetizadores e ganhou visceralidade com um solo de violino — que lembra um trecho de A Visita, seu primeiro sucesso. Cabe ainda toda a doçura de Duas da Tarde, do disco Brasileiro (2018), grande divisor de águas que aproximou Silva da tropicalidade e de um universo tão popular quanto seu nome.
Todas as faixas de De Lá Até Aqui ganharam clipes em P&B e estão disponíveis no canal do artista no YouTube. Gravado inteiramente em sua casa na região serrana do Espírito Santo — na companhia do irmão e parceiro musical, Lucas Silva — , a residência serviu também como locação da produção audiovisual. Como diz um trecho de Pra Te Dizer Que Tô Feliz Assim, o caminho sonoro de Silva nunca foi “reto pra lá”. Suas andanças e experimentações musicais o trouxeram “de lá até aqui” e ainda o levarão muito longe. Com todo o mérito, o futuro de Silva é promissor, deliciosamente incerto e recém começou.
Larissa Mendes e o Gramofone têm muito orgulho em acompanhar Silva de lá até aqui, e muito provavelmente, daqui pra frente também.