Joelma Bittencourt
Sobrevoo em mar íntimo
Tem dia que só acontece
na concha das mãos
trilha escondida
labirinto sem mito
passagem secreta para mundo
onde a voz tem som de mar
límpido
sem ondas
sem sal
sem naufrágios
e o olhar é gaivota
à espreita da hora certa
de mergulhar.
***
latrodectus
sei o que tens
em tua íris
palavra
de instinto aracnídeo
tece
prende
mata
devora
digere o bardo
com tua libido
***
guizos e mordaças
laços dão-se
nós e pesam
no estômago
a profilaxia
atordoa
o bom senso
a ebriedade
não brinca
de bacante
reza o mito
desconsagrado
e impuro
: o amor
finge-se fingir
***
matéria
a mesma carne
que ama
é vil
quando rejeitada
líquor
: o outro nome
da alma?
***
lírica explosiva
o hipotálamo
rende-se
ao olor
da úmida
flor
que lhe acena
entre coxas
e erotizado
fode com
meu juízo
(Joelma Bittencourt é paraense. Formada em Letras pela Universidade Federal do Pará. Dedica-se ao ensino de Linguagem. Sua relação apaixonada com a poesia dá-se pela necessidade de exteriorizar sensações e imagens que lhe acometem. Além de assinar os textos com o próprio nome, utiliza o pseudônimo Acqua, quando aborda temáticas mais densas. Publica seus poemas nos blogues pessoais Transfigurações e Negrume, e nos sites coletivos Poesia: Falsidade Ideológica, Dardo, Poetas Vivos)
É isso, Joelma, as imagens e as sensações que emanam de cada poema nos absorvem de tal maneira que ficamos em círculo relendo-os como se fosse um único poema, ainda que diferentes entre si. Gostei da pujança dos seus versos, dessa capacidade extrema de síntese. Fiquei com “olhar de gaivota/ à espreita da hora certa” para penetrar cada escolha semântica até descobrir-lhe o(s) sentido(s).
Abraços,
José Carlos,
antes de tudo escrever é ser.. e ser é compartilhar!!
Grata pela leitura… a lira fica honrada em passear por íris como as tuas!
abraço feliz!
Agradeço à Revista (à Leila) pelo espaço dado à lira… O Transfigurações fica à disposição e à espera de olhares que, antes de tudo, fazem-se companhia!
Muito grata, mesmo!!
Abraços!
Joelma,
Belos textos, amiga.
Aranhas, cobras e lagartos
passeiam a superfície
líquida.
Acqua.
Sobrevoo às vezes
é mergulho.
Um beijo.
Grata pelo olhar de gaivota, Marcelo!!
A lira aguarda placidamente o mergulho!
Beijo, poeta amigo!
Parabéns, Joelma! Sinestetsia e belas imagens de puro lirismo.
Fico contente que tenhas sentido os versos, Léa!! A lira se envaidece para o bem!!
Beijo!
Joelma e Acqua!… Maravilha, bela seleção, a poeta arrasa!