Camila Passatuto
Sobre Poemas
Nada contemporâneo
Há um arcaico olhar em mim
Que não sabe ficar de fora
Adentra qualquer alma que passa
Não há nada de moderno
Ainda amolo o poema
No fêmur
E descolo a métrica na mandíbula
E se a morte vem
Matuto que sou
Ofereço um café
Para a transa durante juventude
Nada de Andy Warhol
Tem Monet na minha testa
Nada de nada
E você vem
Prova e reprova
É que sou sujo e amargo
Velho em inédito
Nada contemporâneo
Há um poema, leitor,
Brotando no teu peito.
***
Das Guerras
Todo ensejo que orvalha da alma
Vem metralhar quem passa.
E olha…
Tua fé
Já não é.
Eu amiúdo
Versos
Para que não vá
Sem um doce (se quer).
Gritamos.
Sujo tua roupa
Com leite materno
Enrolo tua alma
À minha,
Nada por perto para se agarrar.
Filho,
O que sobra da coragem
São pequenas ervas daninhas,
Que nascem dos olhos
Dos que choram demais.
***
Bombardeios
Os bombardeios seguem a rotina,
Destroem e constroem.
Não sei meu choro
Já faz tempo.
As ruas vastas…
Ainda.
E repouso
Minha desilusão
Pelo batente
Observo tanta ganância
Minhas mãos sujas
De amor
E o mundo acabando
Com o pouco do eu
Que me resta
Na janela.
***
Manger un Réactionnaire
Por onde saliva
É caminho obscuro
Se o faz
Por más línguas.
Ontem um corvo
Açoitou minha sorte
Levou em algemas
As revoltas.
E deles, tão pertencentes,
O descaso calcifica
A frívola passagem
Por essa vida.
O mundo geme
E pede
Em jarra
Nosso sangue.
E nada a alcovitar
A perfeição
Com as almas
Incisas em sistema
Errôneo.
Ladram as partituras
Falsas
Da valsa sem reação,
E gritam em meio
à barricada:
“Homens
Que propendem à política
Matam sufocadas
As pobres poesias!”
***
Infante Moral
Eu recuso o tratado que o mundo oferece
Quero meu próprio tormento
Com os ventos que minha mente reproduz.
Paz. Edifico, desmoralizo,
Não adquiro sua cruz.
E o que você julga eterno
Na minha vida perece,
Muita lei e muita regra.
Olha o cheiro da liberdade…
Tem gente que até esquece.
Empurram um sofá e a arte de trena.
Vão medir minha letra
E criticar o poema.
Esqueci o clássico
O marginal
O cubismo em poesia
Não pude lembrar
Já que alienaram
Minha vontade,
Por pura hipocrisia.
(Quero mais esquina)
Eu confundia as letras
Gritava tudo errado
Era o feio certo
Mas entoava meu passado.
Hoje o mundo me concertou
Na falha da perfeição
E tento a cada brisa
Voltar à pureza daquela
Vadia claudicação.
Camila Passatuto nasceu em São Paulo. Escreve desde os 11 anos e começou atuar nos meios digitais, com blogs e participações em revistas digitais, em 2007. Entre os seus principais trabalhos publicados, podemos destacar: 2010, e-book “Apenas o Necessário”, co-autora da Antologia de micro contos reunidos pela Poesis, em parceria com a ETC Bienal, Fundação Volkswagen e Governo do Estado de São Paulo; 2012, Antologia “Nossa história, nossos autores (Editora Scortecci); 2013, escritora exposta na mostra de Twiteratura no Sesc Santo Amaro.
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Boa poesia. Preciso relê-la.
“Há um poema, leitor,
Brotando no teu peito.” Esses versos me encantaram.
Leitura que embriaga os sedentos por poesia crua, forte e de qualidade.