Janela Poética II

Tristan A. Guimet

 

Foto: Rosa De Luca

 

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Sei perfeitamente. Ensejo saber que existem páginas brancas
desalinhadas da sua pele que artilham colisões acomodadas pela
força da iminência.
Às vezes recorro amedrontado ao luzir dos presságios, à precavidade
da noite, à temerária impaciência do sono.
herdamos pelas encostas do sangue
o momento pela repartição do impossível
o eixo da corrente nocturna
a delicadeza da palavra intangível do seu espaço
o recreio inexplicável do absoluto, o irreprimível mistério
pelo teu nome
que encadeia – as mãos submersas.

 

 

***

 

Fogo Posto

 

gosto muito devagar
o movimento insinuante de um gato
quando calmamente atravessa as paredes,
devagar as mãos descobrem iníquo os rasto dos dedos
devagar,
para não perturbar a sonolência dos espelhos.

 

 

***

 

As linhas traçam a brancura do medo
procuramos a afabilidade do silêncio
sobre a ingenuidade da terra
Escrever é um acto tardio                  que
Existe na perecível arritmia de toda a ausência.

 

 

***

 

O Caminhante

 

a Bruno Pereira

 

Mostra-me um pouco o recanto
de um homem sobre a fé de um cego
Recorda-me melhor a cadeira
dos sítios de nunca
Bebo um pouco mais de vinho
que penso ter na caneta,
Devora-me o caminho das chuvas
que me enviaram no pensamento
húmido da tua voz
Alheamente aceito a partida de um corpo
soletrado na origem frágil do encadeamento da queda.

un, deux, trois.

Au revoir.

 

 

(Tristan A. Guimet, 23 anos, jovem poeta de naturalidade francesa, de pai francês e de mãe chilena. Imigrou para Lisboa em 1998, onde a língua portuguesa tornou-se, hermeticamente, a sua “primeira morada de silêncio”. Estudante de Letras na Universidade Nova de Lisboa)

 

 

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1 comentário

  1. Excelente, K.

    Keep it up.

    Abraço,
    Rui.

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