Iolanda Costa
sortilégio
Um geômetra dos sólidos, vago
gira, embaraçado
à linha, ao diâmetro da carne:
suas figuras vazadas de plano e espaço.
Não vê a mulher, a ruína
a doce espádua nua e coruscante
das que copulam
as sete luas que lhe fulguram o pescoço.
Ela quer o testículo, o seminal
o esfero contíguo e providencial
das Causas Primeiras
transubstanciado.
O colo ungido em ceia mística.
***
brasil
A rã do ar invertido
de teu nome não salta:
coaxa como rãs, anãs
a fêmea muda que não coaxa
a língua longa que não alcança
o acento, o inseto, o insulto.
Teme o enxame, órbita-cócora
de brejo em brasa:
sapo sapa sepo
ipiranga tímida que não asa
itininga fúlgida que não flora.
***
ófris
do aéreo ao mediterrâneo
sibila a orquídea
seu voo de sépalas.
também a palavra
tem formato de moscas
e zune
sibila em sépia poesia tinta
sua escritura rumorosa:
asa-fulva-flor
de céu interior.
***
ceifa
não pinta tanto o lábio
a morte desfaz a boca, a cor
a escarlata do fruto
o rosa encarnado nos sexos
cuida da mortalha, do feno
a vida, bem se vê
não é uma gramínea
de flores nuas
abertas ad infinitum
arranca, do quadril
o colar de absinto
***
outono
arde em folha
seus degredos:
casco fóton salso
ulvas-vulva
céu sargaços
quisera do amor
a mão sobre o sexo
a textura do véu
a blusa florada
o indie folk de sais
renascidos ares, abril
onde a pele propulsa
encardida
e a tudo o sol ilumina
***
tear
meada
entre
meada
o algodão em flor
gosma, do liço
seu amarume
de estames
Iolanda Costa (Itabuna-BA), graduada em Filosofia, é arte-educadora e especialista em História Regional. Editou, artesanalmente, folhetos de poesia “Às Canhas as Palavras Realizam Mil Façanhas” (1990), “A Óleo e Brasa” (19991) e “Antese” (1993). Tem poemas editados em jornais, antologias, revistas eletrônicas e blogs. Participou do Livro da Tribo (2013). É autora de “Cinema: Sedução, Lazer e Entretenimento no Cotidiano Itabunense” (2000), “Poemas Sem Nenhum Cuidado” (2004), “Amarelo Por Dentro” (2009), “Filosofia Líquida” (2012) e “Colar de Absinto”, no prelo. Coordena a Coleção de plaquetes “Pedra Palavra” (2012 -2017).