Leonardo Bachiega
construção geométrica
resistência
garante o povo
o que a imaginação entrega
ao ventre
depois de atirarem
a pedra
não é a dor
que se vê
mas os círculos
se
ampliarem
no meio
do
riacho
***
a poeira fragmenta a água
o primeiro desafio inclinar a cidade
uma chaminé perfura a casa como a consoante
de um coração que sabe os homens bons
são feitos de pólens
e as bordas ficam mais lentas com
as passarelas de mão
algum limbo decifrou o canto do sol
e as tristezas de uma cesta de cordão
que guarda os ossos da fala
dizendo é mais difícil desfiar
as relações dos homens
***
você ainda não leu os ossos
o chão é sério
formigas rasuram de tanto trabalhar
a cortina parece um fole
se o ar tem uma caixa harmônica
e um tórax
se você desalinhar a métrica
você diminuirá a saudade
***
o primeiro poeta disse não
não é de causar estranhamento
ou erosão nos olhos
ou febre no caviar das mãos
a oscilação das calçadas
desde sempre
a poesia foi apenas parte
de uma linguagem cotidiana
mas ela sabe de cor tudo
que existe dentro
isso porque ela diz uma coisa
e faz outra
***
auto relevo
entortei um dialeto engenhosamente
de muito inventar máquinas de fazer
planícies e calmarias
entulho suplicando entulho
conduz a água
esfarinhei tantos dedos
e os rochedos são as cartas do tempo
injetei desespero na veia
de uma sujeira cavando uma vala
que uma quase infância
descia a uma depressão
***
as lições das margens
não é fácil compreender a pedra
só os rios o fazem e quando
nasce de uma cidade
esquecer músicas quase
nas cidades areias
onde amar é uma pesquisa
arqueológica
Leonardo Bachiega é poeta, arquiteto e urbanista, pós – graduado em Barcelona. Nasceu em 1980 na cidade de São Paulo – Brasil, onde mora hoje, é autor de “Poema Número Um” (Chiado Ed. 2016), seu livro de estreia, também publicado em Portugal. O seu segundo livro “A cidade desabotoada”, está previsto para 2018. Tem poemas publicados nas revistas InComunidade e Literatura e Fechadura.