Nina Rizzi
fabulosos cachalotes, metáforas pra voglia, 5
minha mulher, clara e decidida, se crê adormecida
(chamo-a minha mulher por puro disparate
sabemos: não pode ser de ninguém se é sua)
princesa de copas, agoniza uma imperícia com os dedos
não obstante goze as pombas que alimentamos
meticulosa em tudo, não sabe desses seres
que precisam de um cuidado desleixado:
as violetas sedentas por esturricar ao sol e os peixes
megalomaníacos que insistem não se serem, ser beta, oscar:
sozinhos e só, como em resposta ao mundo que os paralisa
o querer ser outro – mamífero e rastejante; neurastênicos
da família poulain, brincam com ela em saltos mortais…
adormece minha mulher quando venta teu nome em minha língua, amor
em tudo o mais é desperta. poderia minha boca
num absorver de fôlego, fazer jus à sua natureza terrestre entre as águas?
mil imagens se deslindam desde a sesta até agora
cantando estorietas de quando eu era feliz e sabia alguma certeza.
***
kammerspiel, metáforas pra voglia, 6
separada da alegria do mundo
não escrevo. se me dão grafites, soutiens
dou um passo contrário às velocidades
e não vou ao mar
aonde escondi-me a mim
suspiro. boneca inflável
rasante de ogivas, sobejo
– a última gargalhada não é estática
uma panaceia cortante.
***
nouvelle vague, minhas sextas com ela, metáforas pra voglia, 7
antes que se dê nomes às coisas, as experimento
como uma mulher que nos momentos de transformação permanece
em casa, que derruba o chá por não ler as instruções
da lata, o desvelo das certezas. espaço decodificado em coro
pelos evangelizados e aberto ao espanto, por ser reto
movimento das dúvidas ao conhecido, vem o verbo a mim
milagre das câmeras que habitam o silêncio e o escuro
carregado pelo peso de seu momento, a sensação pré-objetal
de que resta tudo a ensaiar, pôr à prova, ser ex-
perimentado. amálgama de desesperos e paixões, transferência das lógicas
e peripécias à emergência do único: levantada nas mãos a própria cabeça.
(Nina Rizzi edita a Revista Ellenismos – Diálogos com a Arte e escreve seus textos literários no quandos)
A partir dessa série de poemas, foi feito o seguinte vídeo: https://vimeo.com/39519347
Nina, vi o vídeo e li cada uma das suas linhas, minhas amigas linhas tuas que tanto já me deram de comer e beber no imaginário lírico.
Obrigada por mais esse desfrute.
A foto de Catharina Suleiman é na medida para os desconcerto de Nina.
Mais uma vez, parabéns a Revista!
Niníssima,
Teus poemas são novelos. Até os desleixos são enovelados.
Muitas vezes, são “poemas do aninhamento desalojado”. Preservas o carinho, mesmo ao relento.
Um beijo, amiga.