Fernanda Fatureto
Ouro do Tempo
Reconhecer o ouro do tempo
Que não há mais saída para a mesmice do agora
Que as fábricas acordam de manhã
Do sonho torpe
Do dinheiro hábil
Que o homem não tem vez na roda da história
Que a natureza passa ao largo dos passos
Apressados
Cambiantes
Reticentes
Que o trabalho não alcança nunca um fim
Em si mesmo;
Apenas passa – o tempo
E não se vê os olhos do poeta
………………………………..Na contramão de tudo o que for luz.
***
Escrivão
Minha demanda de amor
percorre a Guanabara inteira
à procura de um colo
uma prece
um sorrio meio largo
ao imaginar a surpresa
em me ver aqui – inteira –
a admirar seu raro talento
– usurpador de ofício.
***
Parto
I
Estou em minha hora mais fértil
Já que não posso te amar,
faço em mim outros filhos
crias do meu sangue
assim como o teu.
Tens parte nessa teia.
No espólio final, ficará
com o bocado mais
hábil.
Eu permanecerei
com as palavras.
II
Sem mais,
retorno.
Ele tem cheiro de alvorada.
***
Brasília
50 anos em cinco.
Tempo do envelhecimento de uma alma.
Um corpo pesa.
A gota cai.
O sol nasce.
Enquanto você fica parado vendo a noite se aproximar
Estático
O silêncio da noite morna com grilos
Entregue a qualquer coisa que seja vida.
Esse fio fino do instante;
Impenetrável.
***
Escuta
Autoconsciência denominativa.
Fluxo verbal.
Paráfrase.
Ironia.
Verbete onomástico.
Réplicas de puro afeto.
Fernanda Fatureto é autora de Intimidade Inconfessável (Editora Patua, 2014). Os poemas aqui selecionados fazem parte do livro de estreia da autora, que também é Bacharel em Jornalismo pela Faculdade Casper Libero (SP). Mineira, vive entre trânsitos pela linguagem.