Janela Poética III

Marilia Kubota

 

Tomás Casares

Foto: Tomás Casares

 

não consigo ficar livre
do gosto dos outros
o meu e o teu rosto,
superpostos são um ? sol impostor
ou vestígio de algum sentido
pedaços indefinidos
do todo invisível

 

 

***

 

 

metamorfose

 

sob a casca
a lagarta da seda
arredonda a redoma
e sonha asas.

a sombra do luto
anuncia:
breve aqui
mais um fruto

a metamorfose

 

 

***

 

 

imensidão

 

escalar montanhas
que só o silêncio influencia
reencontrar nas primeiras cavernas
vestígios de eternidades antigas
descobrir novos sentido e limite
além de sombras conhecidas
buscar sonhos que foram
mais que vento um dia:
alimento que a boca queria

 

 

***

 

 

acordar, susto único
súbito sol subindo o peito
no púlpito de agosto
sob estandartes de luto.

eliminar a dor
do pensamento, um minuto,
o isopor do silêncio,
branco absoluto.

a alma, mesmo fora
desse sol, estala
a um toque de luz. e agora,
acesa por dentro, exala.

 

 

***

 

 

folha a folha
destruir o vestígio
do gafanhoto
na rosa verdejante
que sóis salvam
e a palavra mata.

 

Marilia Kubota é escritora e jornalista, é mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná, em 2012. É autora dos livros de poesia Esperando as bárbaras (2012) e Selva de Sentidos (2008) e organizadora da antologia Retratos Japoneses no Brasil (2010). É editora do MEMAI – Revista de Artes Japonesas e colaboradora do site Interrogação.  

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1 comentário

  1. Maravilha! Parabéns, Marília!

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