Marilia Kubota
não consigo ficar livre
do gosto dos outros
o meu e o teu rosto,
superpostos são um ? sol impostor
ou vestígio de algum sentido
pedaços indefinidos
do todo invisível
***
metamorfose
sob a casca
a lagarta da seda
arredonda a redoma
e sonha asas.
a sombra do luto
anuncia:
breve aqui
mais um fruto
a metamorfose
***
imensidão
escalar montanhas
que só o silêncio influencia
reencontrar nas primeiras cavernas
vestígios de eternidades antigas
descobrir novos sentido e limite
além de sombras conhecidas
buscar sonhos que foram
mais que vento um dia:
alimento que a boca queria
***
acordar, susto único
súbito sol subindo o peito
no púlpito de agosto
sob estandartes de luto.
eliminar a dor
do pensamento, um minuto,
o isopor do silêncio,
branco absoluto.
a alma, mesmo fora
desse sol, estala
a um toque de luz. e agora,
acesa por dentro, exala.
***
folha a folha
destruir o vestígio
do gafanhoto
na rosa verdejante
que sóis salvam
e a palavra mata.
Marilia Kubota é escritora e jornalista, é mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná, em 2012. É autora dos livros de poesia Esperando as bárbaras (2012) e Selva de Sentidos (2008) e organizadora da antologia Retratos Japoneses no Brasil (2010). É editora do MEMAI – Revista de Artes Japonesas e colaboradora do site Interrogação.
Maravilha! Parabéns, Marília!