Janela Poética III

Victor Prado

 

Arte: Cristina Arruda

 

(sem título)

para Juliana

 

 É estranho dormir
sem os cachorros latindo.

É estranho esse exercício mental
de relembrá-los.

Me acostumei a dormir sozinho no escuro
mas o silêncio é excruciante.

#
…..Teu silêncio sem matéria
………..é excruciante

………..(Teu silêncio sem corpo)

#
…..Sem corpo teu silêncio possui órbita
…………………………..em torno de mim.

 

 

***

O mundo regira infinito
enquanto eu canto refrigérios pra acalmar

minha alma

eu desmonto desse potro-tempo
dessa comiseração que são as lembranças

são esmolas

e me deixo acomodar no aconchego

me deixo definhar esperando
a gente cansa de esperar, (mas tá demorando pra isso acontecer comigo)

Então saio,
pra me esconder

 

 

***

 

 

Movimento Dialético

 

Faço-te bruscas lembranças,

aquelas de nascentes,
antes de desembocar
no teu sentido.

E tinham estradas de terra
que cortavam o fundo da casa.

Nessa hora nem te sei,
Mas é fato que as formigas ensinavam minúcias
e mapeávamos juntos as árvores.

Demorei-me com coisas digitais,
Quando voltei-me ao manual
já haviam asfaltado as imaginações.

Procurei-te
Sem mapas
Pra facilitar
O caminhar.

Tu estavas repleta,
Despi-me de tudo que carregava
e te envolvi,

Então, o mundo se reconstrói
protuberâncias divisadas.

Tu és sequoia
e de ti surgem cataclismos em vermelho.

 

 

***

Epifania 3

 

tudo que carregava era pouco. desse pouco, tudo era poroso. e essas frases em branco continuam a aparecer. próprias, conscientes de si e de sua abrangência descontextualizada.
me vejo andar. ando e me vejo andar. a consciência é mais forte que o fazer.
não é momento, nem passagem. não é um mito. nem um ritual. não é porra alguma.
as fendas se abrem.
eu caio, despenco: aceito.
te submeto. te encaminho. te mando pelos correios. por sedex. com aviso de recebimento e tudo mais. me despeço, despedaço. extravio.
desmantelo, e nem mesmo sei onde se encaixam as lacunas, os nós, os conchaves. nem mesmo sei o que é desmantelar.
entendo bem de inutilidades, desmoronamentos, laços, maquinações, permanências e substantivações.
o centro de tudo é consequência, por isso generalizações se formam na minha continuidade e as pausas necessárias remontam céus azuis de dias regulares. tudo isso para que o fio da meada não me perca como perco a mim em botões de repetitivas funções padronizadas e opções limitadas.
a gente é cópia. transmutação; sei a prática. nossa teoria é sombra embaixo dos pés.

 

Victor Prado tem 19 anos, é do interior de São Paulo. Reside em Franca (SP) e cursa Relações Internacionais na UNESP.  Tem poemas publicados pelo Canal SubVersa, Revista Grito, Portal Guata e Jornal RelevO, além de uma menção honrosa no XV Concurso Nacional de Poesias – Edição Álvares de Azevedo realizado pelo CBE. Em outubro de 2014, lançou para leitura e download gratuitos o e-book de poesia Mamute (edição independente).

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1 comentário

  1. Ei, muito bom
    “Sem corpo teu silêncio possui órbita
    em torno de mim”

    Quando se tira a densidade da matéria, o que fica é a essência rondando por dentro, livre e de forma permanente. Gostei muito.
    Abraços
    Neuzamaria Kerner

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