Janela Poética III

Desenho: Rui Cavaleiro

O MURAL DE ALEXANDRE

Marra Signoreli

 

O amanhã é a lágrima de criação do sangue
É o silêncio dos anjos que nos anuncia Ítaca
Vejam a eternidade dessas velas e também os peixes
Como vocês tive medo e também tive carne
Não tive voz quando as correntes me prendiam o corpo
Não tive o além quando o desejo me desfez o mundo
Se tive Aline foi quando o mar me desejou o sonho
E tudo quanto mais voei foi pura inexistência.

Agora vejam, homens que perpassam sem destino!
Esta aurora que se desfez em nada,
Este pó que sou eu nas suas carnes e nos seus rumos
Eu que agora pulso em suas veias pelo sangue dos peixes
Eu estou morto como vocês.

 

 

***

 

 

CANÇÃO DO DESNASCIMENTO

 

Às vezes sob os olhos um pássaro decanta
entardecido aos ossos da gaiola,
assim eu via o idioma de seu rosto
mudo de toda pluma da existência.

As mãos de nunca, que não mais distinguem
a dor e o sono;
as vértebras de mármore, que prendem
as vésperas do pássaro, que evolam
nas batidas de um coração parado
já não me luzem a espera de seus olhos,
nem mais me guardam sonhos de outro dia.
Seu corpo é lâmpada de ausência no mistério
sangrando do céu os anjos de silêncio.

Um dia nos amaremos mais distantes,
mas por hora você dorme noutro sonho
em noite inatingível, enfim sorrindo
a pétala do vôo que me vale.

 

(João Antônio Marra Signoreli nasceu em 15 de dezembro de 1989 e é graduando na Faculdade de Letras da UFG, onde pretende bacharelar-se em literatura. Escreveu o livro “Klívena Klarim”, publicado em novembro do ano passado pela coleção Goiânia em Verso & Prosa, participou do blog Vida Miúda e hoje participa do Mallarmargens)

 

 

 

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