Valéria Tarelho
siameses
somos os mais íntimos
os mais enigmáticos
mesclamos nossas peles
com a pleura da palavra
somos sílabas singulares
sem sofismas plurais
somos os mais cúmplices
parecemos os mais complexos
possuímos o mesmo álibi
o teu veneno é mel
o meu tanino é céu
meu e teu o suor sob
um sol de meia-noite
teu e meu o soro sobre
o húmus dos insones
só nosso
o endereço do segredo
confinado em um quarto
crescente
[fonte das sedes
foco das fomes
fólio de sucessivas mortes]
e mudos e desnudos
e completos
seguimos rumo
ao cimo do sigilo
pátria dos prazeres
secretos
solo do intraduzível
língua onde nós
nos confundimos
***
viúva negra
para cada boca
que me sorve
sirvo
o mesmo veneno
vario
conforme o beijo
a dose de ar
cênico
***
Reverso
O homem certo
decerto não é esse
que amo a torto e a direito
com todos os seus efeitos
O homem a contento
por certo não é esse
que favoneia carícias
nos anéis de meus cabelos
Esse é o homem incerto
inserto em mim como um vício
ou um defeito genético
Esse é o homem inverso
revés do vento brando que invento
– Zéfiro ao avesso –
(Valéria Tarelho, natural de Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos/SP, separou-se da advocacia devido a um caso com a poesia. Seus primeiros escritos datam de abril de 2002)
Caríssimos, que prazer participar de mais uma leva!
Fiquei surpresa, pois ando ausente da Net [redes sociais, especialmente] e isso fatalmente implica em cair no esquecimento :)
Grata pela publicação!
Carinho,
Val
Acho que a advocacia perdeu uma boa causídica, e a poesia ganhou uma linguagem poética tão rica dessa moça.
A pressa é inimiga da (im)perfeição.
Há um homem certo que a acha incerta e vice-versa!
Gostei dos poemas e da revista :)
Tou passeando por ela.
beijos da bípede Lelena
Como é bom ler a Tarelho aqui tb!
A revista está um show!
Parabéns, Val! Parabéns, equipe!