Janela Poética IV

Mônica Mello

 

Ilustração: Mario Baratta

 

 

METAMORFOSEANDO PEDRA

 

Aqui
o sonho virou água
sombras e dia.

Uma sombra devora uma outra sombra
metamorfoseando pedra.

E um desejo mergulha
suas verdes mãos
na correnteza do sol.

 

 

***

 

 

O HOMEM QUE MORA NO MENOR QUARTO DA CASA

 

Ele é o homem que mora no menor quarto da casa.
Suas mãos contorcem os fios e
soldam as memórias dos computadores que conserta.
Mas não conectam seus elos com o passado.

O homem que mora no menor quarto da casa
lava roupa suja dentro do armário e
não se olha no espelho. A água derrama
a sujeira da roupa dentro do armário,
que a esconde.

O homem que mora no menor quarto da casa
faz arroz na leiteira e não toca na louça suja.
Ele pensa que não vai ficar livre.

O homem que mora no menor quarto da casa,
não está sozinho.
Ele é o mais inteligente entre cinco irmãos.
Ele é diversos pedaços entre o parto e a maturidade.
E conserta computadores.

O homem que mora no menor quarto da casa
desenha estórias em quadrinhos.
Adora futebol.
E vê a bola, e sonha bola nos pés
dos super-heróis que consertam computadores.

O homem que mora no menor quarto da casa
tranca a porta.

 

 

***

 

 

ÓDIO OCULTO

 

Danem-se os conceitos do mundo!
Vou para a Amazônia, lá onde meu coração está,
traduzir a água na poeira das horas,
ouvir o uirapuru de Vila-Lobos
e qual esta lâmina que me corta os pulsos,
arrancar o ódio nos dentes
e repousar na terra úmida que cheira à vida oculta.

E tocar o ódio,
………………………e saborerar o ódio,
……………………………………………………e transmutar o ódio
em fina seda que, bordada pelas mãos de muitas mulheres,
reveste a alma gloriosa.

 

 

***

 

 

MEMÓRIAS

 

Em brasa, o véu de seda
………………………………….revela
imagens vermelhas que eriçam
………………………………….Memórias
Surpresa da selva no limiar da
…………………………………….noite.
Será dia?

Seca a escuridão na fogueira
queimando estórias. Fragmentos
de mata atlântica replicam:
acabará em cinzas?

A imaginação se arvora
no sonho rubro da noite.
O tempo lapida a alma
…………………………..inquieta.

 

 

***

 

 

ADEUS

 

O tempo se afoga nas pedras
moendo grãos da memória
Adeus
…………um deus
……………………….se desgoverna.

Teço seu nome no barro
por onde escorrem
…………………………meus olhos.

 

Mônica Mello é formada em Letras pela Universidade Gama Filho- UGF e Especialista em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Participou da exposição de pintura do Centro Cultural da UERJ – Coart, em 2014.

 

 

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