Janela Poética IV

Carolina Calvo

 

Arte: Cristina Arruda

 

Tradução: Floriano Martins

 

COMPAÑÍA REMOTA

 
Sombras que sin ti
caminan conmigo.

Ecos del ayer
golpean desafiantes las nuevas huellas.

Su presencia pendular en el aquí y en el allá
– en el allá y en este aquí sin ti-
acalla todo intento de palabra naciente,
desdibuja con pincelados recuerdos
bocas que quieren ser una.
Siempre así, oscilante,
tu ausencia se derrama como lágrima contenida
sobre inexploradas formas que quisiera besar…
pero nunca puedo.

Impiden tus sombras
…siempre así, oscilantes,
mi tránsito por caminos luminosos.

Seguiré entonces permaneciendo a tu lado sin ti
hasta que el mismo sol, compasivo,
baje y queme sin herirme
la oscura presencia de tu ser en mi ser.

 

COMPANHIA REMOTA

 
Sombras que sem ti
caminham comigo.

Ecos de ontem
golpeiam desafiantes as novas marcas.

Sua presença pendular aqui e ali
– ali e neste aqui sem ti –
desfaz com pinceladas lembranças
bocas que querem ser uma.

Sempre assim, oscilante,
tua ausência se derrama como lágrima contida
sobre inexploradas formas que quisera beijar…
porém nunca posso.

Tuas sombras impedem
…sempre assim, oscilantes,
meu trânsito por caminhos luminosos.

Seguirei então permanecendo a teu lado sem ti
até que o próprio sol, compassivo,
desça e queime sem ferir-me
a escura presença de teu ser em meu ser.

 

 

 
***

 

 

 
LEJANÍA

 

Tras la remota contemplación
de tu sonrisa en el firmamento,
sólo me resta
reordenar las estrellas
y seguir viviendo.

 

DISTÂNCIA

Após a remota contemplação
de teu sorriso no firmamento,
apenas me resta
reordenar as estrelas
e seguir vivendo.

 

 

***

 

 

AUTORRETRATO SIN MÍ

 

Tal es la ausencia
de mí esta noche,
que me conformo
con lo que
éstos versos
puedan decir
de lo que soy.
Punto.

 

 

AUTO-RETRATO  SEM MIM

 

Tal é a ausência
de mim esta noite,
que me conformo
com o que
estes versos
possam dizer
do que sou.
Ponto.

 

 

***

 

 

PUNTO MUERTO

 
Este ir sin mi,
este recorrido pendular
entre el suspiro y el silencio
¿Acaso es por repentinos tropiezos
con el polvo enrarecido del ayer?

¿Acaso envejecí antes de tiempo
y fueron inútiles los intentos
de borrar las líneas de mis manos?

No lo sé.

Sólo miro por la ventanilla del bus
las calles, semáforos, casas
y todo me es ajeno.

Recorremos sin sentido los caminos
sin nosotros
sin los otros,
siempre son miradas pasajeras
las que se posan sobre quien duerme en el asfalto.

 

PONTO MORTO

 
Este ir sem mim,
este percurso pendular
entre o suspiro e o silêncio
acaso é por repentinos tropeços
com o pó raríssimo de ontem?

Acaso envelheci antes do tempo
e foram inúteis as tentativas
de apagar as linhas de minhas mãos?

Não sei.

Apenas vejo pela janelinha do ônibus
as ruas, semáforos, casas
e tudo me é alheio.

Percorremos sem sentido os caminhos
sem nós,
sem os outros,
sempre são olhares passageiros
os que pousam sobre quem dorme no asfalto.

 

 

***

 

 

LLUVIA

 

Estos objetos que no escapan del dilatado suspiro
observan sigilosamente mis movimientos,
ante ellos
llovió esta tarde

No fue una lluvia simple. No.
Del ayer vino.

Azotó mi rostro con una danza
que aturdió mi alma
e inmovilizó mis pasos
sobre la cabeza de las piedras.

Socavó mi piel
con sus finos hilos contundentes
y abrazó mis huesos con ansías de calor.

Quise también abrazarla toda
curar su tristeza
bajo un manto de palabras
resistentes al agua de lluvia triste.

Pero las vocales necias
se ahogaron en su grito,
mis manos abrazaron mi espalda
y las piedras abrieron su coraza
para calentar mi cuerpo
con un calor escondido.

Allí comprendí
que era yo
la lluvia triste
y que son estos observadores
mi eterno invierno de diciembre.

 

CHUVA

Estes objetos que não escapam do dilatado suspiro
observam sigilosamente meus movimentos,
diante deles
choveu esta tarde.

Não foi uma chuva simples. Não.
Veio de ontem.

Açoitou meu rosto com uma dança
que aturdiu minha alma
e imobilizou meus passos
sobre a cabeça das pedras.

Escavou minha pele
com seus finos fios contundentes
e abraçou meus ossos com ânsias de calor.

Quis também abraçá-la toda
curar sua tristeza
sob um manto de palavras
resistentes à água de chuva triste.

Porém as vogais imprudentes
se afogaram em seu grito,
minhas mãos abraçaram meu dorso
e as pedras abriram sua couraça
para esquentar-me o corpo
com um calor oculto.

Ali compreendi
que a chuva triste
era eu
e que estes observadores são
meu eterno inverno de dezembro.

 

 

***

 

 
SIN ALCOHOL

 

Mala elección
pedir coctel de estrellas muertas
en esta noche sin luz

El hielo de mi vaso no se derrite
y la vela de la mesa se extingue
sin que sacie mi sed

Silente,
observas desde la otra orilla
la fría levedad del trozo transparente, sólido,
flota como tus pasos
sobre ruinas de papel.

 

SEM ÁLCOOL

Péssima escolha
pedir coquetel de estrelas mortas
nesta noite sem luz

O gelo de meu copo não derrete
e a vela da mesa se extingue
sem saciar minha sede

Silencioso,
observas da outra margem
a fria leveza do pedaço transparente, sólido,
flutua como teus passos
sobre ruínas de papel.

 

 

***

 

 

ECO

 

Grité olvido al eco
para que retornara
el sonido de paz perdida…
para que regresara sin Él.

Y nítido oí tu nombre.

 

 
ECO

 

Gritei esquecimento ao eco
para que retornasse
o som de paz perdida…
para que regressasse sem Ele.

E nítido escutei teu nome.

 

 

***

 

 

CLAVANDO CLAVOS

 

Sigo allí en esa pared
esperando que un clavo para retrato nuevo
perfore mi frente,
sangre tu nombre por la herida
y despierte pensando
que sólo fue un inquietante dolor de cabeza.

Sin embargo,
la casa se cae a pedazos.

Por misión,
orificios en cada muro
buscan inútilmente aquel lugar
dónde sonámbulas levitan tus palabras.

Ojalá no sea otro clavo
el que despoje a mis poemas
de tu sombra,
no quiero barrer
las ruinas perforadas de mi poesía

 

CRAVANDO CRAVOS

 
Sigo ali nessa parede
esperando que um cravo para retrato novo
perfure minha fronte,
sangre teu nome pela ferida
e desperte pensando
que foi apenas uma inquietante dor de cabeça.

No entanto,
a casa cai aos pedaços.

Por missão,
orifícios em cada muro
buscam inutilmente aquele lugar
onde sonâmbulas levitam as tuas palavras.

Quisera não fosse outro cravo
a despojar meus poemas
de tua sombra,
não quero varrer
as ruínas perfuradas de minha poesia.

 

 

***

 

 
CÁRCEL

 

Turbia es la mañana,
………………..  la tarde,
…………………………..la noche.

Veladas siempre las horas mientras duermes
y no me dejas escapar de tu sueño.

Despierta ya,
¡Qué se acabe la pesadilla!

 
 
CÁRCERE

Turva é a manhã,
…………….a tarde,
…………………….a noite.

Veladas sempre as horas enquanto dormes
e não me deixas escapar de teu sonho.

Desperta já,
que tenha fim o pesadelo!

 

Carolina Calvo-Pérez (Bogotá, Colômbia, 1988). Poeta, inédita em livro. Integra a oficina de criação poética da Universidade Pedagógica Nacional, coletivo que dirige o jornal Aldabón, publicação com destaque para as novas vozes da poesia colombiana, incluindo a poesia étnica de diferentes nações indígenas. Participou do Festival Internacional de Poesia de Bogotá e do Festival Internacional da Cultura, em Tunja. Neste último evento acompanhou o poeta brasileiro Floriano Martins em uma leitura de poemas incluindo vídeo, música e fotografia. Participa ainda do grupo de pesquisa Merawi, cuja linha de trabalho é a interculturalidade e seu reconhecimento em espaços educativos.

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1 comentário

  1. Gostei dos versos fortes, de ausência, da poeta colombiana.
    Uma pausa: dizer da leveza e fluidez das imagens de Cristina Arruda que estão acompanhando os textos literários. Uma bela leitura à parte dos textos.

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