alter et idem
Davi Araújo
eis que a ave volátil declama o peixe solúvel
e de repente a geografia de uma rasura
conta a história d’alguma literatura
e são os ininteligentes elegíveis
na universalidade intraduzível
ismismos mesmo preferíveis
à grande banalidade indigerível
que a biblioteca me preserva a ignorância
porque o pior labirinto é uma linha reta
se nas leituras solitárias desde a infância
tornar-me um outro e o mesmo é a meta
contemplo o duplo na reflexão volúvel
altero-me só um pouco e no reflexo
outro é um eu de mim desconexo
***
Eus em Pessoa
Sou essas mil e uma almas que encarno & osso
Desde aquelas calmas às mais carne de pescoço
É uma infinidade de outros estranhos reunidos
Que há nos nós mesmos dos meus conhecidos
Em triz teço uma teia de nojo & metamorfoses
Do coral que me encanta com as minhas vozes
Uma corja de caráteres que trago personificados
Camaleões de fragmentos & tons resignificados
Iluminações de espelhos refletem o que emano
Contra a sombra que me usa de escudo humano
Nunca subo ao palco do qual sempre despenco
Engendro pequeno monólogo & grande elenco
(Davi Araújo é poeta, ficcionista, tradutor, ghostwriter e conselheiro editorial. Autor do blog Não Fique São, atualmente finaliza dois grandes livros de poemas, continuações da trilogia iniciada com Livro Ruído (Eucleia Editora, 2011), publicado em Portugal. Contato: davis.eu@gmail.com)