Cleberton Santos
Insolubilidade
para Mário Quintana
Da insolubilidade das coisas
nasce uma canção petrificada.
Enquanto a violeta da tarde
agoniza sob meus olhos
fincados no horizonte chumbo.
***
Escombros
Em cada passo destas horas
a imbecilidade do amor
aguda dor sobre meus ombros.
Em cada escombro desta noite
a terneza do esquecimento
silêncio marítimo que me devora.
***
Minotauro
Na casa de Asterion
mitos e belas donzelas tramam
contra o Amor.
Esfaqueado, Teseu perambula entre
as muralhas,
inutilmente lúcido.
***
Poema Sexagenário
a Antonio Brasileiro, com chapéu
Um poeta caminha sob teu chapéu. É ríspido.
Em passos largos de ternura e demência
caminha sem mapas sem deuses.
Em teu peito ardem solidões esquecidas.
Um poeta é mais que horizontes. É poesia.
Teu canto fere a surdez dos loucos
e embriaga a lucidez dos pássaros.
A poesia renasce na aba do teu chapéu.
***
Concerto para ninar calangos
Silêncio tecido de dor e violinos
crava em meu peito
concerto estapafúrdio
para ninar calangos opalinos.
Cleberton Santos é poeta, crítico literário e professor do IFBA campus Santo Amaro. Foi vencedor do Prêmio Escritor Universitário Alceu Amoroso Lima, da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, em 2002. São de sua autoria os livros de poesia Ópera Urbana (2000), Lucidez Silenciosa (2005), Cantares de Roda (2011) e Aromas de Fêmea (2013). Em 2007, recebeu o Prêmio WALY SALOMÃO da Academia de Letras de Jequié/BA. Tem poemas e artigos publicados em antologias, jornais e revistas literárias. Publicou ainda o livro Estante Viva: crítica literária (2013).