GÊNESE DO DIA
Vitor Nascimento Sá
Hoje, dia de feras,
xxxxxProcusto me arrasta à sua senda,
xxxxxestrada de aparar arestas.
Hoje, dia de feras,
sou devorado pelo
xxxxxxxxxxxxxcéu
xxxxx– Urano e seus velhos vícios –
xxxxxxxxxxem suas artes de imitar o pai
xxxxxxxxxxem suas artes de imitar o tempo.
Hoje é dia de feras.
xxxxxE eu, vítima de Minos.
E o fio?
Em algum ponto se perdeu entre feras
Em algum ponto se desfez
xxxxxE como não ser eu agora
xxxxxa carne de alimentar os deuses
xxxxxdragões famintos, febres?
Eu e minhas pernas podres,
eu e o meu pouco fôlego,
eu e minhas doenças,
únicas verdadeiras propriedades.
Eu, fera de mim mesmo,
eu, auto-rei, auto-deus,
autófago, autômato, arauto.
***
TEORIA GERAL DA GUERRA
Sangue e terra:
na olaria da morte,
o barro inconcreto do nada.
Diante do abismo,
o fim diagramado dos mapas
sobre a mesa de generais aquartelados:
cada centímetro noturno
arrastado em mil fios,
entesados e enrodilhados,
dentro da trincheira imersa
no fosso da alma do soldado.
Sangue e terra:
barro nos pares de coturno,
morte dificultando a marcha
com todos os medos sufocados
na garganta do inimigo degolado.
(Natural de Maracás, Bahia, Vitor Nascimento Sá é gestor escolar, revisor e professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, licenciado em Letras pela UESB em Jequié e mestrando em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS. É diretor e cofundador da Associação Grupo Concriz: Poetas, Recitadores e Afins. Tem textos publicados nas revistas Verbo21 (BA), Blecaute (PB), Correio das Artes (PB), Cronópios (SP) e Laboratório de Poéticas (SP). Participa da antologia Sangue Novo: 21 poetas baianos do século XXI (2011). Os poemas acima fazem parte do seu primeiro livro, intitulado Escapulário (no prelo)
nao sei bem o que pensar, mas que o texto de Vitor Nascimento Sa me interpelou perigosamente, isso nao tem duvida.
ha algo de misteriosamente terra, sangue, tragédia… enfim, poesia forte, que causa impacto.