André Rosa
Flor e espinho
E vem o amor com seus rompantes
Suas ausências, seus sofrimentos
Trazendo seus zelos, suas impaciências.
E vem o amor, martelo agalopado,
Estragos irreparáveis
Com seus olhos de redenção.
E vem o amor, como se pétala,
Flor e espinho.
E vem o amor, como se desejado hóspede
De farta mesa.
E vem o amor, então.
***
Hegel
Minto para tecer palavras,
Inventar dialetos.
Minto como um livro édito
E sua tradução de cogumelos.
Minto como a noite insuspeita
No alvorecer dos instintos.
***
Cristal extremo
O algo tranquilo e pérfido
Jantar que esfria, asséptico.
O vinil estanque no risco,
Estrofes de um mesmo ruído.
O copo, cristal intrépido,
No muro que insiste extremo.
O tapa que não levo, mas percebo.
***
Feltro do universo
Eu,
Absurdo concreto,
Findo-me em camas
De feltro.
Minhas mulheres,
As abduzo.
Eu,
Universo.
***
Pedras e quintais
Toco a tua pele esquecida nos quintais
E alcanço os teus gestos inatingíveis
Que habitavam a minha rua de pedras.
Beijo o teu ouvido aberto em rosas surpresas
E em páginas escritas a vinho.
Conjugo o teu verbo peculiar
E amasso entre meus dedos
O barro escuro do teu olhar.
Desfaço os pedaços do Cristo
Suspenso e trajado, imagem de madeira.
***
Fragmento
Quando os versos do equilíbrio soam
Nos degraus rangentes
As imagens quebram-se.
Imenso gesto solar de um dia público.
O fragmento arqueja
Ávidos e únicos,
Seus instintos de pedaço sobejam.
André Rosa nasceu em Ilhéus-Ba. É graduado em História com Pós-Graduação em História regional (UESC). Fez Mestrado e Doutorado em História social (UFBA). Autor dos livros: “Ilhéus: tempo, espaço e cultura” ; “Família, poder e mito” ; “Memória e identidade”; “Quintais do tempo”.