Janela Poética VI

Vanessa Carvalho

 

Arte Leonardo Mathias

 


no inverso da pele,
o universo.

 

 

***

 

 

olhos de sertão:
nunca mais
choveram.

 

 

***

 

 

sobre telhados,
entre pipas e casas
os meninos
sem morada
querem
estar mais perto
de um céu.

 

 

***

 

 

partem
e nos
partem.

 

 

***

 

 

só,
desabotoa a pele
e fica
alma.

 

 

***

 

 

o verso
riscado no chão,
era pisado,
ninguém via.
até
que um cabisbaixo
o leu um dia.

 

 

***

 

 

havia saudade,
mesmo estando
na mesa,
sentados
frente a frente.

 

 

***

 

 

o jazz
que toca
o toca

sozinho
na mesa
não está
tão só:

saudade
no mesmo tom
do sax
que entra e
percorre
sem pressa
toda a
anatomia intergaláctica
do interior

e não sai

saudades
deveriam ir
na bagagem

 

Vanessa Carvalho mora em Recife e às vezes no Filosofia de quinta.

 

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