Beatriz Bajo
INFINITIVOS
e se meu coração estiver na boca?
um beijo para assaltar o tempo perdido
na esquina canalha da navalha
desafiada
da rua sem saída
acordar a flor intacta e sonolenta
simulacro encantado no caule tortuoso
da árvore primitiva no sertão
úmido dos meus lábios sábios
a cor da arma de voo da libélula incrédula
é irresistivelmente a brancura infinita
das rendas tramadas nas fibras líquidas
âmagos imantados pelas intimidades luminares
***
TÊMPERA
ela roga entre escândalos dos sândalos
que exalam de seu rosário
raízes misericordiosas que se enovelem
por todos os segredos
tato intacto alma nua concreta pra ele
a cintilância que se curva ante o amante
todo despertar é fiança enfiando-se
na agulha do tempo desfeito de amor
aço da têmpera costurada
de esperas
***
LUX
um homem constrói sua mulher
pela beira de si, pilares
altares de singelezas
arquitetados de aleluias
por milênios dentro
dos momentos
acende colunas e
tonifica músculos
no peito aberto
para o sempre
inventa hélices
alianças
amálgamas
assim
eternamente
apalavrados
– no franco
caminho
de seus corpos –
despertam a linguagem
intraverbal
que os ultrapassa:
“nós
nos
vivemos”
Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980). Poeta, diretora-geral da Rubra Cartoneira Editorial, revisora, tradutora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ). Seus livros são domingos em nós (PR), publicado em 2012 pela Rubra Cartoneira Editorial, a face do fogo (SP) e : a palavra é (PR), os dois de 2010. Mantém o blogue Linda Graal e o Esquina Literária, de ensaios, resenhas e divulgações.