AS CARTAS AO MUNDO DE FAO CARREIRA
Por Fabrício Brandão
Pensar a expressão artística de Fao Carreira é trilhar uma via onde as representações da existência estão marcadas, acima de tudo, pela poesia. De posse de tal condição, o artista inscreve na pele dos dias os laços que o atraem para o jogo das veleidades humanas, da presença sorrateira daquilo que nos seduz e, ao mesmo tempo, nos escapa volátil entre as mãos.
Indagar o que povoa a infância da criação, se a palavra ou a imagem, não nos parece relevante no caso desse paulista de Botucatu. Em Fao, as feições de desenhista, pintor e poeta harmonizam-se de modo a conferir à sua obra um caráter de unidade. Essa “contaminação” de uma arte pela outra opera a comunhão de linguagens distintas, cujo resultado possui um decidido teor filosófico. Nessa perspectiva, o porquê de se estar num mundo no qual os excessos nos saltam aos olhos parece instigante questão de ordem.
Cada desenho ou tela produzido por Fao Carreira é verdadeiro exercício de correspondência com o que explode lá fora. Seja em traçados, rostos ou profusão de cores, o artista remete ao mundo seus anseios e inquietações. A despeito disso, não é em vão o nome de batismo de seu blog. Suas missivas são direcionadas a todos nós como o registro mais puro do espanto que é estar vivo.
Da sua paixão pela literatura, Fao consolida um diálogo especial e denso com quem se debruça na contemplação de sua arte. Isolada ou conjuntamente, seus versos e imagens ousam sondar a fina camada que envolve o tecido das horas. Na passagem dos instantes, lacunas ganham corpo e nos relembram que o ato contínuo de respirar é pedra fundamental da criação. Por isso, um artista a relatar marcas do tempo. Por isso, somos cativos leitores do mistério que povoa suas cartas.
* As imagens de Fao Carreira são parte integrante da galeria e dos textos presentes na 73ª Leva.
Meus olhos se sentem confortáveis e íntimos desses traços, cores e palavras.
Eu não conhecia!
A gente vive para aprender que não conhece quase nada!! :)
beijoss
A obra é linda, e as poesias, como alma, se cobrem de cores, formas e idéias, que nos transportam para um outro mundo, que Fao nos apresenta. Obrigada por esse privilegio, e alegria, beijos, Susana.
Também as descobertas plasticas a que nos conduzem suas escolhas, Fabricio, sao extraordinarias.
Essas cores reunidas em sinfonia ou bailado, seus acenos a Volpi e outros (pode nao ser, mas toda obra é aberta…), me remetem ao estilo de de Leminski e seus jogos de palavras que explodem, agridem, brincam e nos obrigam a sentir e pensar.
Parabéns.