Olhares

DO INDIZÍVEL E OUTROS TONS

Por Fabrício Brandão

 

 

Foto: Catharina Suleiman

Uma vasta paisagem embebida em segredos e mistérios povoa a arte de Catharina Suleiman. E falar disso não se resume a pensar que a tessitura de suas imagens reveste-se apenas dos dotes mais densos duma subjetividade que se requer marcante, mas sim a uma reprodução de certos horizontes quiçá inabitados pela superficialidade dos dias.

A fotografia ganha um sentido etéreo a partir dos registros de luz feitos por essa paulistana. Através do seu olhar, o idioma do corpo humano salta aos olhos, desvelando formas, sentidos, gestos e apelos diversos da alma. Qualquer noção de obviedade é posta à margem. Importa saber do insondável, do algo além-matéria, perquirir os vãos e desvãos que abrigam o ser.

Como exprimir em palavras aquilo tudo que se revela habitante do incontido? É assim que vamos tomando conhecimento de que estar diante da proposta visual da fotógrafa revela-se verdadeira odisseia de signos. Por mais que tentemos tornar ao ponto inicial da viagem, a experiência de estar ali, frente às singulares vias de sugestão da artista, faz do retorno algo totalmente renovado, porém incerto. Curiosamente, não vagamos por entre rostos, fragmentos temporais, detalhes, lugares e outros tantos tons com a sensação de avançarmos ilesos. Nesse aspecto, estar no limiar das coisas é desfrutar o gosto impreciso das horas e sentir-se parte de uma existência que não busca respostas para seguir adiante.

Foto: Catharina Suleiman

Em sua trajetória, Catharina acumula experiências de vida em diversos países, tendo participado de vários cursos. Sua relação apaixonada com a fotografia permitiu-lhe aprofundar-se na área e conhecer processos alternativos e experimentais de criação. Do laço íntimo que estabelece com suas imagens, a fotógrafa confessa que utiliza seu ofício como forma de questionar a realidade, extrapolando a barreira física dos lugares captados em busca de um resultado passível de vibração pictórica.  E vai mais além, crê na possibilidade de se olhar tudo o que já foi visto antes de um modo inteiramente inexplorado, como se a cada nova investida do olhar pudéssemos perceber o nascimento de uma singularidade.

Utilizando-se recorrentemente dos recursos do vintage, Catharina Suleiman não somente delineia um elo entre passado e presente, como também nos envolve numa atmosfera na qual as perspectivas visuais mostram-se especialmente atemporais. De fato, não há razão para a ocorrência de limites de tempo ou espaço, apenas a permanente presença dum percurso poético por sobre a natureza das coisas flagradas sob os mais distintos matizes. O que a fotógrafa batiza como ilusões pode muito bem nos parecer um convite à reinvenção da vida, palco onde desfilamos desnudos, viscerais, contraditórios e, por vezes, inconfessáveis.

Foto: Catharina Suleiman

* As fotografias de Catharina Suleiman são parte integrante da galeria e dos textos presentes na 74ª Leva.

 

 

 


 

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3 Comentários

  1. Poucas vezes vi o trabalho de Catharina Suleiman tão bem definido e visitado quanto nas palavras de Fabrício Brandão. Imperdível suas colocações a respeito da fotógrafa e da arte que ela exerce tão magnificamente.

    Parabéns!

    Catharina, querida, o mundo é seu!!!!

    um beijo.

  2. Fabricio,
    Estava lendo sua preciosa fala sobre as fotografias de Suleiman. Sua escrita foi tão sensivelmente fotográfica que quase não vi o trabalho da artista. Parabéns a todos! vou continuar vendo a leva.
    Abraços

  3. Que linda as fotos, e o jeito que a foto foi abordada foi maravilhoso. Tão puro e sensível! Conheci hoje essa revista e já amei. Parabéns a todos nela envolvidos.

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