Ciceroneando

 

Ilustração: Joana Velozo

 

Um ano se inicia. Com ele, sempre depositamos esperanças de mudanças em relação ao movimento das coisas que buscamos. Parece haver a ideia permanente de que outra contagem temporal, por si só, é capaz de encerrar a renovação. Desse modo, pensamos teimosamente que um ano nascente demanda a intenção da novidade. 2019 pode ser muito mais do que índice cronológico de um estado de coisas e situações. Compartimenta um tempo de vivências que ganha significativa importância na medida em que estas remetem ao pensamento humano. No caso específico de um projeto como o da Diversos Afins, as expectativas são movidas pela dinâmica que aflora entre palavras, ideias e imagens. Assim, o ano agora por desbravar não significará muita coisa se não pudermos, através dos comandos da Arte e da Literatura, fomentar expressões daqueles que pensam muito além de seu entorno. O compromisso com o mundo e suas mais variadas questões é algo que perpassa naturalmente as manifestações de muitos criadores. Estes últimos são vetores de um fluxo comunicativo que requer uma lúcida e aguçada observação sobre a vida, delineando temáticas que ultrapassam as fronteiras da mera contemplação estética. Há quem tencione que o fazer artístico deva guardar uma necessária correlação com o tempo no qual se vive, representando tal ato uma incessante vigília sobre o curso da história humana. Nessa mesma linha, evoca-se a noção de que somos todos seres políticos por natureza e, portanto, passíveis da assunção do comportamento crítico dentro do imenso painel que é o exercício democrático do livre pensar. O curioso é perceber aqui que até mesmo quem se recusa a se caracterizar como sendo alguém político já pratica uma espécie de política, mesmo que na via da negação. Discussões à parte, as veredas literárias, por exemplo, são um importante instrumento de exposição de opiniões advindas do universo sócio-político. Além disso, posicionar-se pode ser muito mais do que encampar uma determinada ideologia, ou seja, significa também deixar mais consistente o caldo da participação na sociedade, ainda que surjam correntes antagônicas de ação, o que nos “protegeria” das garras nocivas do pensamento único. Quando a arte movimenta essas nuances do múltiplo que se abrigam em nós, somos convocados ao debate e à reflexão. Movidos pela pluralidade, nosso caminho editorial de então encontra respaldo na expressão poética de Ricardo Escudeiro, Wanda Monteiro, Luísa Gadelha, Elizabeth Hazin e Tito Leite. Somos também embalados pelos contos de Kátia Borges, Zuca Sardan e Floriano Martins. É Geraldo Lima quem nos apresenta o mais novo livro de Claudio Parreira, o romance “A lua é um grande queijo suspenso no céu”. Guilherme Preger analisa as delicadas tramas do filme japonês “Assuntos de família”. No texto de Pérola Mathias, toda a inventividade presente em “Contraduzindo”, disco de Tuzé de Abreu. Elis Matos entrevista a poeta, fotógrafa e performer Ana Mendes. A pesquisadora Maria Lúcia Lepecki celebra a memória do escritor português António Vera. O rock da banda Game Over Riverside é alvo de Emanuel Moreno Pinho e suas impressões sobre o disco “Empty”. Durante toda a edição, somos atravessados pelo impacto das ilustrações de Joana Velozo. Adentrando seu novo ciclo de atuações, a Diversos Afins apresenta a 129ª Leva. Seja muito bem-vindo(a), caro leitor(a)!

 

Os Leveiros

 

Clique para imprimir.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *