Ciceroneando

 

Foto: Ricardo Stuckert

 

Nunca é demais lembrar do grande poeta Drummond quando este exortava, em versos, que deveríamos seguir de mãos dadas. Mesmo que não saibamos ao certo para qual futuro rumaremos, cabe a partilha dos instantes, os caminhos construídos coletivamente, pois talvez jamais cheguemos a muito longe sozinhos. Ah, o mundo, essa construção dialógica e difusa que não cessa de propagar seus sintomas! Esse verdadeiro painel de contrastes, desacordos, discordâncias, ao mesmo tempo em que agrega gente afinada e disposta a estabelecer trocas úteis por um bem comum. Mas o que seria de nós sem as diferenças de pensamento, sem o contraditório? Um estado de coisas no qual tudo permaneceria inerte? Um cotidiano atravessado pela visão permanente e totalizante sobre tudo? O menor esforço em ensaiar tal cenário uniformizante já nos causaria desassossego. Certamente, há algum saldo construtivo dentro da lógica das oposições de pensamento, daquelas que não se furtam a debater ideias com respeito e equilíbrio. No território das artes e da literatura, por exemplo, é deveras positivo ver a profusão de temas e ideias que sustentam as mais diferentes expressões. Cada autor ou artista confere a uma obra seu próprio tom, sua narrativa, ao nos mostrar olhares peculiares sobre o mundo. E assim vamos movimentando essa gigantesca e complexa roda da vida, estabelecendo pontes dentro e fora de nós mesmos. Na estrada que vai seguindo, encontramos mais gente disposta a somar. É, por sinal, o caso dos poetas Michaela v. Schmaedel, Ramayana Vargens, Samantha Abreu, Tales Pereira e Léa Costa Santana, cujos versos comunicam nuances da vida. Gustavo Rios vem nos trazer ao centro de sua análise a nova obra de Ney Anderson, o livro de contos “O Espetáculo da Ausência”. Por sua vez, Kátia Borges entrevista o escritor Lima Trindade, conversa regada a percursos sobre literatura, música e quadrinhos, dentre outros temas. Guilherme Preger é quem nos oferta seus olhares atentos para o filme brasileiro “Meu nome é Bagdá”. Nossos cadernos de prosa abrigam agora as densas narrativas de Dênisson Padilha Filho, Anderson Fonseca e Wilfredo Lessa Jr. Na seara musical, o disco “<atrás/além>”, da banda O Terno, é tema das anotações de Rogério Coutinho. Nas linhas de Geraldo Lavigne de Lemos, há instigantes mergulhos na obra “Sonetos em crise”, do poeta Jorge Elias Neto. Esta edição está entrecortada pelas imagens do fotógrafo Ricardo Stuckert, cujo trabalho evidencia também um sensível e importante olhar sobre os mais diferentes povos indígenas do Brasil. Sobre esta exposição fotográfica e outros apontamentos em torno da obra de Ricardo, há uma breve análise de Fabrício Brandão. Sejam, bem-vindos, queridas leitoras e leitores, à nossa 138ª Leva!

Os Leveiros

 

 

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1 comentário

  1. Na grande Roda da vida cabe tudo o que faz com que a vida aconteça. Parabéns a todos que fizeram e fazem com que a roda da Diversos continue girando.

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