Gramofone II

Por Emanuel Moreno Pinho

 

GAME OVER RIVERSIDE – EMPTY

 

 

“Game over!” e “End game!” são expressões geralmente usadas em jogos eletrônicos para expressar o fim de uma partida. Em alguns casos, em especial nos jogos mais antigos, também significavam o fim de uma determinada fase e começo de um nível mais difícil e superior. Bom, deixando de lado questões geeks, Game Over também constitui o nome de uma promissora banda baiana de indie rock ou pós-grunge (no entender de alguns), hoje muito conhecida no cenário underground soteropolitano, já na estrada há cerca de quinze anos e buscando cada vez mais subir o nível do seu jogo sonoro.

Apresentando alguns trabalhos interessantes desde meados dos anos 2000, tal como a faixa Sadness Online, oriunda de seu álbum de estreia, e, após um hiato de oito anos, a Game Over Riverside (ou GOR, para os íntimos) parece ter retornado querendo mostrar uma sensível evolução na qualidade de seu trabalho nos dois últimos discos. Neles, é inegável a qualidade criativa, firmada em significativo refinamento na produção dos instrumentais e na composição das letras, além de uma boa finalização acústica (a tal pós-produção), características incomuns considerando que os álbuns foram gestados dentro do cenário underground do rock de Salvador, onde tais aspectos não costumam ser muito ressaltados ou sequer são levados em conta pela grande maioria das produções locais (embora haja algumas exceções, obviamente). Tanto Deep Water (2016, Virgo Estúdios) quanto Empty (2017, André Araújo Estúdio) demonstram intenções ambiciosas na busca por uma significativa evolução musical.

 

Game Over Riverside / Foto: divulgação

 

Por ora, vamos nos deter na análise de Empty, em que se ressalta a uniformidade da sonoridade geral obtida pela banda.

Seja em canções mais lentas como Paper flames ou Me and my band, flagramos a mesma integração fluida e precisa dos riffs de guitarra e a mesma aceleração da bateria, que se percebem na faixa-título Empty ou, ainda, em Roswell. Empty é pós-grunge, traz boas variações nas guitarras e um pequeno solo de baixo arrebatador, que se integra perfeitamente ao vocal bem destacado, assim como a pegada rápida da bateria, dando a base desta música que lembra algo da fase inicial do Smashing Pumpkins. Já Roswell é mais grunge e soturna, com algumas incursões mais profundas e ressonantes a darem um clima mais psicodélico, algo que a própria letra já remete com o tema alienígena e a inspiração na ficção científica, e que, de certo modo, faz lembrar Foo Figthers, a grande banda de David Grohl. A faixa God in a Talk Show é, sem dúvida, a mais rocker de todas, sendo basicamente um hardcore, com seu ritmo acelerado contínuo e até mesmo um coro vocal. É de longe a melhor faixa em que se evidenciam as qualidades sonoras já referidas. Se I Can`t Hardly Wait é a música mais arrastada em termos de ritmo, descobrimos nela um grunge muito bem executado com vocais bem furiosos casados a um belo arranjo de bateria. A balada Me and my band é a faixa mais solar de todo álbum, cuja sonoridade lembra muito mais algo do rock alternativo dos anos 80 do que os elementos grunge ou pós-grunge da banda, porém mantendo a mesma identidade sonora das faixas anteriores e tendo um belo e melódico riff de guitarra como fio condutor. A última faixa, Paper planes, é uma balada no estilo de bandas como Stone Temple Pilots e Pearl Jam, algo que se percebe de cara no ritmo e nos riffs das guitarras.

Em outras palavras, o som, faixa a faixa, parece seguir uma unidade harmônica na qual não se observam grandes dissonâncias ou diferenciações nos encaixes das músicas em relação à intensidade obtida em termos instrumentais e na proposta do álbum como um todo, voltada para os gêneros indie, grunge e pós-grunge.

 

Game Over Riverside / Foto: divulgação

 

Tudo isso é mérito de uma experiência apurada em termos de sensibilidade musical, principalmente se considerarmos a formação com três guitarras que, ainda assim, com toda a sua ênfase, não se sobrepõem aos vocais em nenhum momento. Isso é saber o que exatamente se quer em termos musicais. Em especial, dentro de um gênero que convida a se fazer muito barulho e a ser menos virtuose. É na sutileza destes aspectos que se evidencia a larga experiência dos integrantes da GOR: Sergio Moraes (vocal e guitarra), Leko Miranda (guitarra), JJ Oliveira (guitarra), André Gamalho (baixo) e Leonardo Cima (bateria).

Além do capricho das letras, todas bem amarradas, e da consistência da sonoridade de cada faixa, destaca-se o vocal preciso, junto às intervenções das guitarras com seus belos riffs, que não competem entre si, mas formam uma unidade coesa e que se integra ao bom trabalho da cozinha de baixo e bateria. A única coisa que se pode considerar negativa em Empty é o pequeno número de faixas, mas em torno disso fica a questão: Será o fim do Jogo da GOR ou podemos esperar que ela continue a elevar seu nível?

Para ouvir Empty, clique aqui!

Emanuel Moreno Pinho é formado em Filosofia e Geografia, frequenta a cena roqueira da Salvador desde os anos 90 e tem como uma de suas bandas favoritas a Faith No More.

 

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