Janela Poética I

JP Schwenck

 

Ilustração: Marjorie Duarte

 

Colapso Central

 

E não há tempo
Para as coisas fúteis
Para as discussões inúteis
Já foi-se letra pra pouco argumento.

Não há mais sentimento
Só se formulam lamentos
Sanidade espalhada no chão em um manicômio urbano
Poesias pisadas até saírem sangue. Esse é o movimento.

E de praxe, eu estendo a bandeira da minha própria sanidade e des-rimo os versos proferidos
Queimo parte por parte
Depois me jogo nas cinzas e rolo
E rio
E choro.

Pois é a vida, não é mesmo?
Após disso morro lentamente nos braços da cidade
E soluçando, clamo à vida, a perda, as perdas.
E apago, acordo e não me encontro.
Vou pra onde não vou e ando por onde não ando.
Morro de novo aos pés da poesia.
E está consumado.

 

 

 

***

 

 

 

Limite

 

a cadência dos clarões fantasmas
os monstros geométricos
a quimera gigante no céu
árvores em negativo fosforescente
um pedaço de sorriso morto uivando no mar.

um trem fantasma só de ida sem nem mais voltar
o sugador de almas com fome
o canibal demoníaco poliquântico
o terror sanguinário de barba e dentes

e os pedaços do espelho que espalharam-se no chão ao atravessar
e as paredes que te fecham pra te esmagar
e o seu corpo que te prende e tenta te devorar
até desmaterializar
prendendo o limite das coisas que trancamos pra não mais lembrar.

 

 

 

***

 

 

 

Barulhos

 

quando se escreve um artifício
o peso das palavras fura o leve do ofício

há quem diga que o poema é feito de ar
eu digo que o poema é feito de alma
de uma alma pra outra alma.

há quem diga que o que há no poema é barulho.
eu digo que o que há no poema é erupção mental.

seja corrosivo, colorido, carnal
matéria visível, palpável e espiritual.

 

 

 

***

 

 

 

Cortejo Fúnebre

 

enquanto todos dormem
nas ruas, fantasmas caminham calados
em pares, braços juntos ao corpo
no meio panorâmico, caixões levados pelos ombros.
os borrões seguem cabisbaixos.
e vão aumentando.

o cortejo assombra a cidade
e vira um carnaval de sombras.

 

 

 

***

 

 

 

Brisas Continentais

 

Mais uma vez não cumpri as coisas que jurei prometer
Tanta coisa na minha lista e eu não sei o que fazer
Tô tentando seguir reto para não enlouquecer
Não gritar de madrugada pra ninguém me ver morrer
Pois até no meu último suspiro só me vem você.

Sua voz no meu lado chamando pra ao seu lado permancer
O sonho é tão real que até posso tocar o céu
De mel são as minhas asas e tão alto eu sei q vou alcançar
Minhas brisas tão inertes me levando de volta para o mar.

E do alto dessa vista, meu impulso me faz voar
No meio da fumaça do cigarro que tenta me cegar
Imerso nas brisas continentais que me deslocam de lugar.

 

 

 

***

 

 

 

Pedaço de Corpo

 

dos olhos da felicidade
nada vaza, nada escapa
pelos vãos, os sonhos vis
as pontes deixadas pela nossa imaginação.

talvez o amor fosse apenas uma invenção
uma história, um peso, um erro, uma superação
nunca escolhemos o que cegos, nós vivemos
apenas temos mudas noções.

e se cegos vivemos, nada faz tão sentido em nossas direções
perdidos estamos, vencidos ficamos ultrapassando nossas próprias invenções.

 

JP Schwenck é um artista multimídia carioca nascido no ano N⁰ II do século XXI. Proveniente de uma geração hiperativa e explosiva, ele escreve desde os 12 e produz conteúdo independente e efusivamente. Em 2020, publicou “Opus”, seu primeiro livro por si próprio e lançou seu podcast experimental “Alma Mastigada”. Inspirado na arte contemporânea e no seu cotidiano, sua missão é expor a sua visão do mundo que lhe absorve e transpor sua liberdade artística.

 

 

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