Janela Poética II

André Luiz Pinto

 

Foto: Hermes Polycarpo

 

Ouvi-los.
Fixa no tempo
a forma
remediando
…………………..o branco.

Guardá-los.
Quantos forem os bocados.
Deixa na planura
um gesto,
mais parece socorro.

Ouvi-los
depois que o repetir
sob o acorde
de aranhas.

Um nexo.
Um corrimão avulso.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Pior, no plano
do cordeiro,
sabendo o homem,
eis o lobo.

O cruel da carne,
acredite,
zero a zero,
imenso o rosto.

Amadurece,
podendo advir
quando um bote
ave de rapina.

E o que retorna
ao sabor das mãos:
livre é o medo
no intercâmbio das coisas.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Mas como fugir dessa linguagem
impoluta, sufocada dia após dia,
intercedendo sobre tais minérios?
E como, arrisco-me por conhecer
nenhuma lei, alivia-se a boca
sob a estase dos ventos? Mais se parecem
do que negam, o verdadeiro valor
da conta, cântico dos quânticos
no descortinado meio-dia; aliás,
Sofia engole a cidade, convenhamos
que Sofia é morta e nos atende por Antônio
Gonçalves Dias, nosso primeiro narciso.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Primeiro arrebenta,
desemparelhado em sua fúria.
Um problema comum
ao ministério de todos, até mesmo
em suas abstrações: um galho que venha romper;
depois, no dia seguinte, análogo
ao anterior, você o encontra, naquela posição
inócua, promíscua, reposto ao ministério
da árvore. Como reagiria a esse beco?
Encerra os olhos, ali, na hora
de encontrá-lo, como um galho que pensou.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Quero da palavra sua ruga,
a mancha da camisa sem sossego,
os tempos louros
que só cheiravam a jasmim.
É sempre o mesmo desespero,
o mesmo pé de valsa
sobre o capim.
Quero a palavra ‘carne’,
verbo que ilumina,
labirinto sem Deus.
Quero a palavra ‘morte’
o terreno da sorte
zero à esquerda
até nos momentos de gol.
Inescapável
como a fome
baixo e vil até no nome
é certo que o Rio não é mais.
A regra
é o que reza pedir.
Quero a palavra ‘cobra’
com suas
dobras e rugas.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Eu sou o chaveiro, mais do que
a chave de Só se passar por mim

O que atrai
a tantos
ou é tão covarde
que morde os donos?

E tem também
o oráculo de Delfos
esculpido
em tuas mãos.

No canto
da página
como água parada

o amor – sob custódia.

 

André Luiz Pinto da Rocha nasceu em 1975, Vila Isabel, Rio. Doutor em Filosofia pela UERJ, leciona na FAETEC e SEEDUC. É autor de: “Flor à margem! (1999), “Um brinco de cetim / Un pediente de satén” (Maneco, 2003), “Primeiro de Abril” (Hedra, 2004), “ISTO” (Espectro Editorial, 2005), “Ao léu” (Bem-te-vi, 2007), “Terno Novo” (7Letras, 2012), “Mas valia” (Megamíni, 2016), “Nós os Dinossauros” (Patuá, 2016), “Migalha” (7Letras, 2019) e, em parceria com Armando Freitas Filho, “Na rua” (Galileu Edições, 2019). Seus poemas foram tema para os documentários “André Luiz Pinto: Prazer, esse sou eu” e “Autobiografias poético-politicas”, em 2019, ambos de Alberto Pucheu.

 

 

 

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