Alberto Lins Caldas
assim a dor o sofrimento
assim a dor o sofrimento
sob a língua é só deserto
entre os dentes o q sobra
se perguntasse – o vazio
se negasse – só o vazio
se dissesse – não sabia
todos esses tão perfeitos
não sentem fome – a fome
essa satisfeita com osso
todos esses são felizes
?os q sofrem são de carne
então por q não se devoram
todos na mesma sombra
todos na mesma crença
uns na brasa outros rindo
só vivemos nessa dança
só bebemos esse cálice
sal q tempera a morte
***
é preciso
é preciso
muito mais superfície
pra dizer o essencial
mais ondas
e em todas essas ondas
o mar
não o ruído
mas todos os ruídos
enfim o tecido e o rato
jamais o silêncio
mas todos os silêncios
só assim o não
é preciso esquecer
tão completamente
q nem sei
depois estarrecido
tocar a máscara nua
assim o corpo sabe
não apenas o entre nós
o jorrar dentro e além
mas a ferida e a hora
agora é sempre
por isso não se afaste
não há tempo a perder
***
não sabemos eu e o imperador
não sabemos eu e o imperador
como tudo isso começou
como brasas pegam fogo
como nossa paz nosso bem
nossos servos se transtornaram
e tudo quer nos destruir e apagar
não sabemos qual a hora o lugar
o momento preciso em q a onda
a onda se tornou esse mar
não sabemos eu e o imperador
se haverá futuro ou bem querer
pros nossos os nossos bem amados
temos medo dos metais afiados
enquanto escondemos os pesados
bem longe desse mundo q aderna
não dormimos há tanto tempo
q o sono nos domina e prende
enquanto eles devoram tudo
***
correr pela treva
correr pela treva
chamando o q passou
é fogo morto é fogo fátuo
chamar os vivos os homens
por um desejo q não é deles
é fogo morto é fogo fátuo
querer a clara chama
quando tudo é escuridão
é fogo morto é fogo fátuo
admirar essas coisas
o q se dispõe como gente
é fogo morto é fogo fátuo
gritar assim tão infeliz
quando ninguém pode ouvir
é fogo morto é fogo fátuo
o q não jorra da violência
essa bruta potência entre nós
é fogo morto é fogo fátuo
(Alberto Lins Caldas publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001) e “Gorgonas” (Cepe, Recife, 2008); o romance “Senhor Krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009), o livro de poemas “Minos” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2011) e colabora em várias revistas literárias e blogs de literatura e arte)
excelentes!!!grande poeta que sigo pelo face! e perfeito o titulo da matéria. mas justamente o que ele provoca cutucando nossas zonas de conforto vem nao so no poema mas na sua linguagem na sua forma: sem acentos, sem terminar algumas palavras como o “q” por ex e com seus sinais pretos , ja tao características nossas, contendo o poema. aqui ele se “normalizou” e ficou como um jovem a quem a gente arranca as roupas coloridas e rasgadas e corta o cabelo. e o veste com roupas tipo terno e o apresenta assim, aos convidados da festa. bonito forte e preso. sem mais liberdade.
São ótimos .Ele escreve bem ,nos leva junto ,e a leitura flui .
Gostei muito dos poemas .
Extasiante! mergulho no Não SER