Janela Poética V

Lorena Ribeiro

 

Imagem: Roberto Pitella

 

Suas letras passam rápido
Mal consigo ler o que elas têm a dizer
Se são de verdade,
ou de mentira, como saber?

Sempre que as encontro
Sou levada a um momento inexistente
Nem passado, nem futuro
E de tão breve, nem presente

Um estado de graça
Que mora numa farsa
Onde me vejo imersa
Cada dia um pouco mais

 

 

 

***

 

 

 

Transita suavemente
………entre a superfície
e a profundidade,
……………….o simplório
…….e a complexidade,
como dois seres
…….habitando em um.

….Um deles vaga livre
entre ocasos e auroras,
………enquanto dorme
o que espera o amanhecer,
……………. não do dia,
…………………..mas da vida.

 

 

 

***

 

 

 

AS PALAVRAS DO SILÊNCIO

 

No silêncio dessa noite,
volto em muitas outras
…………noites,
……………………madrugadas,
…………………………….alvoradas
Cheias de barulho,
desse que de fora não se ouve
Mas há de estar lá,
Gritando dentro da cabeça
Escorrendo pelos dedos
Saltando palavras despretensiosas
…….Agitadas,
…………….fugitivas
Esse é um jogo interessante
Uma disputa que ninguém ganha
Nem quem grita
Nem quem corre
Nem quem salta
Uma fuga temporária
Dos laços,
………..traços,
…………………pedaços
Que, ao final, se unem aos cacos
E voltam todos para a caixa.

 

 

 

***

 

 

 

Sentir era tudo que estava
………Presente na saudade,
…………………………..palavras,
………………………….nostalgia.
…………..Presente na ausência,
na permanência da imagem.
………..O sentir parecia intenso,
………………tão grande.
…..Ora restos, sobras demais.
……………..Fazia trocas de verbo
……………………Do sagrado verbo
…….que ousaram pronunciar.

 

 

 

***

 

 

 

Como provar do tão abstrato
…… e.n.c.a.n.t.a.m.e.n.t.o ?
……………………Seu brilho,
……………….luzes e cores,
…………….vejo da sombra.
…….A que torna o dia noite,
……………………….todo dia
…………….L.o.n.g.o.s dias
……….a prever o teu sinal.
…………..Rastro de medo,
…………………fuga,
…………………… saudade.

 

 

 

***

 

 

 

Incompleto

 

Guardo-me incompleto
na prateleira
meio bebido,
meio consumido,
meio gasto
um tanto preenchido,
um tanto abastecido,
um tanto conformado
Ora destilado velho,
recipiente empoeirado
Ora bebida cara,
de raro sabor
pelo tempo aprimorado
Um meio cheio
do que se acha valer
Um meio vazio
do que ainda quer ter
Um tanto ausente
do que deixou de ser
Um incompleto volátil
que não se pode conter.

 

Lorena é licenciada em Física, Mestre em Ensino de Física. Tem pela escrita encantamento e curiosidade. Procura nas palavras aconchego, distração, refúgio dos cansaços diários

 

 

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4 Comentários

  1. Que orgulho tenho dessa amiga, que me surpreende a cada dia, lindos poemas. Parabéns por mais esse dom.

  2. Parabéns Lorena!
    Seus poemas são lindos.

  3. Poxa que emoção, que sensibilidade! Parabéns Lorena e obrigado por compartilhar essa rica veia poética! Beijos!

  4. “Sentir era tudo o que estava presente na saudade”. Que coisa linda!

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