Jogo de Cena

Zuca Sardan & Floriano Martins

 

Foto: Fátima Soll

 

LA MAGNA IMPORTANCIA EN LA HISTORIA SANTA Y PROFANA DEL POPOKATEPLEK

 

ZUCA SARDAN

Hay ahora una grande polémica diplomática en la ONU, una acerba disputa que opone el México a L’Italia. Los italianos contestan que el Popokateplek sea más importante que el Vesuvio, en la Historia Geológica y en La Historia Sagrada. Del punto de vista de potencia volcánica, el Popokateplek es un volcán de plena y formidable potencia, capaz aún en nuestros días de lanzar llamas y vapores hasta centenas de metros de altura… Al paso que el Vesuvio, en los días de hoy, no expele más nada, ni siquiera la fumarola que encantaba los pintores hasta la Queda de la Bastilla, y sobre todo después de la Batalla de Waterloo, sobrando solamente el encanto, para los turistas, de su fumarola, hasta la primera mitad del siglo XX, cuando la fumarola se acabó, de una vez por todas. Cuanto a la Historia Sacra, el Vesuvio fue superado por el Ararat, donde se tendría acostado, al fin del Diluvio, la Arca de Noé. Pero el Doctor Zapata acredita, basado en sus excavaciones, que el Ararat no presenta la más mínima erupción, a rigor no es siquiera un volcán, ni tampoco un volcanoide sin cratera… Así, del punto de vista geológico no ofrece condiciones de compararse a nuestro imponente y fogoso Popokateplek. Ahora resta la Historia Santa. Ora, las revelaciones en la Biblia sobre la saga de Noé, fueron hechas siglos Antes de Cristo, cuando los Hebreus, y todos los Pueblos de Europa, África a Asia, no tenían la menor noción de la existencia de las Américas. Entonces los relatores de los hechos bíblicos no tenían la más mínima idea da la existencia del Popokateplek, e imaginaran que la Arca se hubiera acostado en el Ararat… Pero el Diluvio fue mucho más fuerte de todo lo que se pudieran imaginar los sabios de la Antigüedad. Tanto el Vesuvio cuanto el Ararat estuvieron sumergidos por el Diluvio. Solo el Popokateplek ofrecia condiciones de un seguro acostamiento de la Arca. No obstante estas consideraciones geológicas, siguen los armenios y los italianos negando la primacía del Popokateplek, en el salvamento de la Humanidad y de todos los animales, a excepción de los peces, que viven en el agua y… de los dinosaurios de que el tamaño colosal tornó imposible ingresarlos en la Arca, y acabaron todos muriendo ahogados.

 

DOC FLOYD

Uma vez publicada tal saga nos papiros de arroz Valkiria, o centro do mundo deixou de ser aquela região do Ararat, passando a terra Santa a ser banhada pelas águas do Amazonas. E a história, que sempre teve uma tara pelas distorções, conserva o segredo de sua origem em uma arca de pau d’arco no fundo falso de uma barcaça que sobe e desce o rio Negro. A chave da arca é um mistério que a cobra Nosferatu guarda em seu estômago.

 

ZUCA SARDAN

Floriano, era isso que eu bem imaginava…

 

DOC FLOYD

Mas no fundo as coisas nunca são como as imaginamos…

 

ZUCA SARDAN

E muito menos como elas próprias pensam que são.

 

DOC FLOYD

Esta é já uma clássica confusão. Daí que hoje em dia os classificados já procuram por pitonisas que não façam a menor ideia de seu trabalho.

 

ZUCA SARDAN

Quanto menos ideia de seu atualmente mercantilizado trabalho, e mais louca seja a pitonisa, melhor poderá se realizar a verdadeira prática oracular.

 

DOC FLOYD

As pitonisas cantam e oram
enquanto varrem o chão
preparando o tablado
para a próxima sessão.
O ministro Delgado
disse a elas que à noite
vai contornar a lua
com o cetim dos sonhos
e um coro de sapinhos
com os olhos esbugalhados
decifrarão os futuros
de cada alma lavada…

 

ZUCA SARDAN

Para lavar alma precisa água-raz e… a Pílula do Esquecimento do Doutor Radar.

 

DOC FLOYD

Mais da metade das almas ao menos desconfia que futuro algum terão. Aquelas que imaginam ser tocadas por algum esfregão da sorte, fazem cara de comidinhas do destino e conspiram contra as demais.

 

ZUCA SARDAN

Não ter aporrinhação futura alguma, e sumir sem pagar as dívidas… é o Calote Metaphysico… saborear o sossego eterno prometido pela Modernidade… Livre enfim do Tribunal das Lambadas de Ultratumba.

 

DOC FLOYD

Foi assim que um dia desses a Modernidade parou de cantar em sua gaiola de cristal. E os querubins de pasto pequeno em uníssono exigiam que ela fosse para a panela. A boia era a última das quimeras.

 

ZUCA SARDAN

Segundo o Peru da Modernidade, a Perua da Vida Eterna rebola melhor… Mas como ele não bobeia com as aparências… desconfia que o rabão supino é coisa da Costureira Celeste. Quando chegar o Natal… ele acabará na panela.

 

DOC FLOYD

A Modernidade sempre foi o grande dilema de Cronos, porque ela trucidou o futuro e congelou o presente. A seus olhos tudo é passado e só ela reina impiedosa.

 

ZUCA SARDAN

A Modernidade é hoje coisa do passado. A Pós-Modernidade se pinta e se emperequeta… Saturno boceja, e dá uma afiada na foice… O Corcunda Corco se coça e toca a badalada vesperal.

 

DOC FLOYD

Os grilos sorrateiros desafinam todos os instrumentos no auge da noite sonolenta…

 

ZUCA SARDAN

Entra o Corvo Edgar… para acabar com a baderna… Súbito silêncio…

 

CORVO EDGAR

Acabem com essa zoeira grilos jecas, e não voltem NUNCA MAIS…

 

CORCOVO

(Acompanhando no carrilhão o espinafro do Edgar) Bong… Bong… Bong …

 

DOC FLOYD

As morsas tiram a poeira dos sextantes. Temos que rever as nossas cartas de navegação. Ainda ontem íamos a toda força a estibordo. Agora a deriva sorri e nos abre os braços.

 

ZUCA SARDAN

Sem o imprevisto, não haveria surpresas. Sem surpresas, a vida torna-se sem graça. Mas só encontra o imprevisto quem souber esperá-lo. Quem não esperar o imprevisto, jamais o encontrará.

 

DOC FLOYD

Que diabos de capirôto é esse que escreve uma lenda em que os tupiniquins se debruçam no ombro da estrada à espera do… inesperado! Pois afinal, oh dramalhão de quinta, eivado de paradoxos amanteigados, como pode ser inesperado sendo tão esperado!!!

 

ZUCA SARDAN

Pois é… a sorte favorece a audácia!… Como dizia o Danton: Audácia! e sempre Audácia!… E o inesperado não deve ser esperado na banheira, ou chega a Charlotte Corday e passa-te a faca!… como aconteceu com o … plec! plec!… o… Marat!… morreu com um papel na mão… escrevia na banheira seus violentos artigos.

 

DOC FLOYD

Morrer com um papel na mão, é haver sido impedido de uma última representação. Dizem que a banheira de Marat está guardada no porão do Louvre, que até hoje há uma nódoa de sangue em um pequeno rasgo no quarrycast da velha banheira vitoriana…

 

ZUCA SARDAN

Marat era muito doente e passava grande parte do dia dentro da banheira. E dentro da banheira escrevia, mediante uns apoios de madeira que lhe serviam de mesa. Diariamente ia almoçar no Café Procope, que até hoje existe, na mesma rua em que habitava, na Rive Gauche, onde o editor de seu jornal, localizado na mesmíssima rua, despachava um mensageiro para ir recolher o manuscrito que Marat trazia para o Café, de modo a dar-lhe umas derradeiras penadas. Quando estive em Paris, durante um ano, em 1957, na Rive Gauche, eu ia quase diariamente almoçar no Procope, que era então bem baratinho, sempre orgulhoso de seu passado histórico, e tinha retratos ovais grandes, em molduras douradas, com os retratos de todos os personagens históricos que o haviam frequentado nos tempos da Revolução. Os retratos eram fidedignos, em tamanho natural, mas visivelmente cópias, em cartão, de quadros originais, ou recopiados, por algum pintor-artesão hábil, de alguma gravura representando tal ou qual personagem. O proprietário, que tinha suas fumaças literárias, era muito amável, e seu gato vivia dentro do Restaurante, e cismava de se enroscar ou subir na cabeça de algum freguês, ou freguesa, que lhe parecesse mais simpático. Há poucos dias, vi um documentário francês recentíssimo, sobre o Café Procope e está de um luxo extraordinário, mantendo o aspecto histórico na sua reforma total. Uma cozinha super-sofisticada, e caríssima, garçons com roupas antigas, nada a ver com o café-restaurante, servido por garçonetes velhotas, que eu havia frequentado.

 

DOC FLOYD

Talvez o papel viesse embebido em sangue da revolução que almejara. A história é fascinada pela borra de café das quimeras. Os sonhos são defumados com precisão. As fumaças que saem pelas escotilhas, chaminés e cozinhas papais. Um batuque ao vento anunciando as glórias e catástrofes da combalida história. O que restou da Modernidade é esse vício de labirintos, essa gravação repetida da voz das nações. A carta magna dos insucessos.

…e a cortina desabando sobre nossas cabeças….

 

Zuca Sardan (1933). Poeta e desenhista.  Autor de várias peças de teatro escritas a quatro mãos com Floriano Martins. Contato: zuca.saldanha@gmx.de

Floriano Martins (1957). Poeta, ensaísta, dramaturgo, editor. Dirige a Agulha Revista de Cultura. Autor de várias peças de teatro escritas a quatro mãos com Zuca Sardan. Contato: floriano.agulha@gmail.com

 

Clique para imprimir.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *