Pequena Sabatina ao Artista

Por Sérgio Tavares

 

Na mesma proporção que uma boa escrita carece de técnica e imaginação, é preciso que o escritor tenha sensibilidade para capturar e decifrar o espírito do seu tempo. Em seu mais recente livro de contos, a mineira Eltânia André processa os códigos que representam, cada vez mais, a sociedade contemporânea, em especial a brasileira. “Duelos” trazem narrativas que se constroem a partir de disparos de violência, crimes de ódio, agruras urbanas, desmazelos e injustiças sociais. São retratos muitos claros e contundentes do nosso cotidiano, que revelam o quanto perdemos o senso de absurdo e a capacidade de reação, por exemplo, diante de mortes de crianças pelas chamadas balas perdidas. “Há mais homicídios no Brasil do que ​nos anos do conflito no Vietnã e atualmente na guerra da Síria, ​mas, em nosso país, esse passivo recai, em sua imensa maioria, ​sobre as populações desassistidas da periferia”, lamenta a autora.

Em entrevista exclusiva à Diversos Afins, Eltânia conta sobre o processo de composição de seu livro, ao mesmo tempo que reflete sobre o Brasil de hoje, repartido por conturbações sociais e político-partidárias, e sobre o real poder da literatura em se oferecer como um instrumento de recondução coletiva. “Melhor seria se os livros fossem objetos íntimos ​habitando o imaginário do nosso povo, mas tantos ainda precisam do básico e do urgente: saúde, alimentação, escola, dignidade”, alerta.

Morando em Portugal há cerca de dois anos, a escritora ainda traça um paralelo entre a produção literária feita no Brasil e na Europa, constituindo um painel de pequenos detalhes que espelham a realidade atual do mercado do livro no Brasil e a sua própria relação com a escrita e a publicação. “Seria bom se meus livros tivessem distribuição e fossem mais lidos, mas não houve nenhuma abertura. Não gosto do silêncio que se instala sobre os pedidos que lotam as caixas das (chamadas grandes) editoras, acho cruel e desrespeitoso​ a indiferença ou as cartinhas com negativas ​automáticas e burocráticas”, declara a autora.

 

Eltânia André / Foto: arquivo pessoal

 

DA – Seus livros anteriores são marcados pela exploração do território da memória, no esteio de uma escrita com tendência poética. “Duelos”, por outro lado, trata de uma realidade atual, regida por temas agudos e contundentes que ilustram o caos da sociedade brasileira. O que motivou tal mudança?  

ELTÂNIA ANDRÉ – Aconteceu naturalmente. Quando percebi, a violência estava posta em vários contos. O que fiz foi ceder à temática e seguir produzindo com o título, “Duelos”, eleito. ​A severidade da vida e a realidade que ​nos circundam me guiaram na busca de personagens e histórias, porém tentei através da linguagem levar um pouco de ternura, não sabendo se havia possibilidade do paradoxo ​ou se seria possível suavizar a brutalidade. Mesmo assim arrisquei. Quanto à memória de longo prazo, ela também está presente em vários contos, com sutileza, talvez. Os contos estão circundados pelo horror ancestral, mas também pelo crescimento da violência urbana​, circunstâncias que recheiam gráficos: há mais homicídios no Brasil do que ​nos anos do conflito no Vietnã e atualmente na guerra da Síria, ​mas, em nosso país, esse passivo recai, em sua imensa maioria, ​sobre as populações desassistidas da periferia, sobretudo jovens negros.

 

DA – “Uma das mil e uma noites”, conto que abre a coletânea, acompanha uma cena chocante em que um jovem gay é espancado por conta de sua orientação sexual. Até que ponto, você acredita, a literatura é capaz de transcender seu valor artístico e servir como instrumento de alerta social? 

ELTÂNIA ANDRÉ – O narrador d​esse conto é surpreendido pelo desejo de salvar a personagem, mas ele não tem o antídoto para salvar o homem do veneno da estupidez. Assim, instala-se no texto a angústia que paralisa a história e que faz a  narração se dilatar em múltiplas vias, exigindo do leitor a saída brusca do cenário de horror e deixando, imediatamente, o convite para a pausa reflexiva. É a angústia da autora também, ​pois tenho em mim tantas dúvidas e, por outro lado, tanta fé na arte. Mas, sim, a literatura é um dos instrumentos de alerta social, mas suspeito que não seja apenas isso. Há uma potência, que eu particularmente sinto, de que a literatura me permite estar em contato com o silêncio para ouvir outras vozes, sem reservas, sem receios – personagens e mundos múltiplos. Paro para ouvi-los, contemplo-os e, em alguns casos, torno-me íntima deles, outras vezes me torno outra(s) e assim fico mais próxima de mim. A literatura produz empatia, produz proximidade, arrisco a dizer que possa produzir novos sentidos; somos atravessados pelas palavras e num determinado momento essa força produz mudanças. Tudo isso pode mobilizar individualmente ou coletivamente o universo social, mesmo que nos pareça imperceptível. Melhor seria se os livros fossem objetos íntimos ​habitando o imaginário do nosso povo, mas tantos ainda precisam do básico e do urgente: saúde, alimentação, escola, dignidade.

 

DA – Numa outra chave narrativa, alguns contos tratam de mecanismos de violência, que não se fortificam na brutalidade, mas que não deixam de ser violência, a exemplo do descaso público com a saúde, a educação, a aposentadoria pública. De maneira geral, são temas poucos explorados pela literatura brasileira. Você acredita que falta, aos escritores contemporâneos brasileiros, um olhar mais penetrante para esses problemas cotidianos, que parecem menores, mas não são? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Talvez esses temas estejam ​diluídos na literatura contemporânea, implícito na realidade das personagens, porque não é possível testemunharmos nosso tempo sem observarmos esses fenômenos que trituram nossas vísceras.

 

DA – A violência contra a mulher é outro tema recorrente. Mulheres abusadas, oprimidas, inferiorizadas. Traçando um paralelo com a literatura, e levando em conta o último prêmio São Paulo de Literatura, que elegeu três escritoras campeãs, como analisa a participação das mulheres no mercado literário? Percebe que ainda há restrições por parte das editoras, dos leitores, comparado aos espaços permitidos aos homens?  

ELTÂNIA ANDRÉ – ​Comemorei o resultado do Prêmio São Paulo, três mulheres vencedoras, mas gostaria que um dia fato​s como esse não necessitasse​m de comemorações ou fossem alvo de ​uma visão pitoresca, entre críticas e deboches, porque se pensarmos na quantidade de vezes que somente homens venceram prêmios​, isso ocorreu sem nenhum destaque ou suspeita. Gostaria que um dia nós tivéssemos ​naturalmente esse espaço; a escrita como processo, como exercício e resultado de esforço combinado com talento. Há tanto tempo as mulheres escrevem, o que deveria importar? A força da escrita​, não a hierarquização ou os rótulos. Seria mesmo bom se assim fosse! O mercado literário nunca foi imparcial, não só com relação às mulheres, nem mesmo justo com as escolhas das obras, ​pois nem sempre a qualidade é o farol. Claro, percebo que há restrições e há tratamentos desiguais. Mas não vamos nos calar. O Mulherio das Letras, que surgiu sob a batuta da escritora Maria Valéria Rezende, tem mais de 6.600 mulheres. Um número expressivo, não acha?

 

DA – O conto “Matança de passarinhos”, que integra seu novo livro, originalmente faz parte da coletânea “Perdidas – Histórias para crianças que não têm vez”, que reuniu textos de autores em protesto aos casos repetidos de crianças mortas por balas perdidas em comunidades carentes do Rio de Janeiro, no ano passado. Como foi o processo de composição desse conto, e de qual maneira ele serviu de norte para a ideia central de “Duelos”?  

ELTÂNIA ANDRÉ – Na verdade, eu já estava quase terminando o “Duelos”​, quando Alexandre Staut me convidou para participar da antologia “Perdidas – Histórias para crianças que não têm vez”. Mas é sempre difícil enfrentar essa guerra em que as nossas crianças são alvo, ao invés de receberem proteção e direitos, ​como os que estão inseridos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). A realidade é ​rude, meu amigo: Maria Eduarda tinha 13 anos, cursava o sétimo ano do Ensino Fundamental e estava participando de uma aula de Educação Física, numa Escola da Zona Norte do Rio de Janeiro, no momento em que foi beber água e recebeu em seu corpo os disparos de fuzis. Muitas outras crianças e adolescentes foram vítimas de histórias trágicas. “Matança de passarinhos” foi escrito com muita tristeza, e confesso que gostaria que fosse totalmente ficcional e distante da realidade, mas é uma fotografia do Brasil, infelizmente.

 

DA – Há uma frase muito emblemática no conto “Poesia que ninguém lê”, que diz: “Os versos inacabados estarão sobre as contas a pagar na segunda gaveta do criado”. É uma imagem muito representativa da relação entre vida comum e a literatura; do quanto escrever, no Brasil, pode ser comparado a uma obsessão diante da ausência de qualquer recompensa associada, sobretudo a financeira. Por que, então, seguir escrevendo? E, principalmente contos, que é um gênero mal visto pelo mercado? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Também insisto em me questionar. Não é mesmo fácil enfrentar as contas na gaveta e o poema que insiste em sobrepor​-se à matemática e às obrigações diárias. A maioria de nós precisa se dedicar a outro trabalho para sustentar também a própria produção literária. Mas o que mais me incomoda é ter que ser a caixeira​-viajante, mascate da minha obra, isso é bastante desconfortável. Escrevi o artigo “Por que escrevemos”, ​que foi publicado em dezembro de 2017, na revista Caliban, de Lisboa, para tentar encontrar algumas pistas para es​sa interrogação que me assalta frequentemente. Não encontrei uma resposta justa, mas não consigo parar de escrever (algumas vezes penso que deveria). Encontrei esse modo de comunicação comigo mesma e com o mundo que teima em não cessar.  Quanto ao gênero do conto, eu não me importo com o tratamento do mercado, tenho muitos contos ainda para produzir, e quer saber: dane-se a ditadura do mercado, o conto é soberbo e valente.

 

Eltânia André / Foto: arquivo pessoal

 

DA – Seus livros foram publicados por editoras de médio e de pequeno porte. Isso se deve a uma escolha sua, pensando em ter mais gerência sobre a preparação de suas obras, ou chegou a tentar contato com editoras de maior circulação e não obteve êxito? Qual sua relação com o mercado do livro? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Ainda não tentei encaminhar meus livros para editoras de maior circulação, desacredito que serei avaliada. Seria bom se meus livros tivessem distribuição e fossem mais lidos, mas não houve nenhuma abertura. Sou orgulhosa, não gosto do silêncio que se instala sobre os pedidos que lotam as caixas das editoras, acho cruel e desrespeitosa​ a indiferença ou as cartinhas com negativas ​automáticas e burocráticas (não creio que leiam os textos sem que haja indicações). Admiro o trabalho das pequenas editoras, como a Patuá, que publicou meu romance “Para Fugir dos Vivos” e “Duelos”. Reconheço que vem apresentando ao mercado livros excelentes, com primoroso trabalho estético e, além disso, há a abertura do diálogo com os editores.  ​Afinal, justiça seja feita, são esses laboriosos pequenos editores que nos dão vez e voz num cenário tão viciado, e já algum tempo temos visto autores dessas casas serem contemplados com prêmios nacionais.

 

DA – Você é natural de Minas Gerais, mas já morou em São Paulo e agora está radicada em Portugal. O quanto a existência por essas cidades trouxe de enriquecedor para a captura de temas e o desenvolvimento de sua escrita? 

ELTÂNIA ANDRÉ  Nasci e vivi durante 24 anos em Cataguases, e foi convivendo com meu irmão (que se encantou com a poesia, publicou um livro artesanal e, meses depois, morreu​ precocemente, aos 19 anos, vítima de um acidente) que o desejo insólito de ser futuramente uma escritora foi despertado e ficou hibernado por anos. Em 1990, decido viver em Belo Horizonte e lá permaneço por uns 15 anos. De 2004 até 2009, permaneço em Barbacena, para estudar Psicologia. Em 2007, começo a escrever e publico, apressadamente e de forma independente, meu primeiro livro de contos, ​”Meu nome agora é Jaque”. Depois de minha formatura e de meu casamento, parto para São Paulo e lá fico por muitos anos. A escrita passa a fazer parte de minha rotina e finalizo os livros “Manhãs Adiadas”, contos, selecionado pelo PROAC e publicado pela Editora Dobra, em 2012; “Para fugir dos Vivos”, romance, publicado pela editora Patuá, em 2015; e “Diolindas”, romance escrito em parceria com Ronaldo Cagiano, que saiu pela Editora Penalux, em 2016. Em janeiro de 2017, saio do Brasil, passo a viver em Lisboa e continuo a escrever e revisar “Duelos”, que, em agosto deste ano, é lançado pela Patuá. Sair do território natal foi o primeiro e fundamental passo para minha formação ​e experiência existencial, pois o deslocamento nunca é apenas geográfico. É um trânsito filosófico, é tornar-se outro, é a metáfora da errância no sentido de desviar-se do caminho original, espalhar-se em outras direções e, ao mesmo tempo, carregar em si e na memória o que fomos na representação do passado com todas as suas complexidades. Só consegui começar a escrever depois de muitos rompimentos: com o mercado, com Deus; com valores que introjetei da cultura e do senso comum. A literatura exigiu um enfrentamento comigo mesma. O deslocamento físico acaba refletindo no subjetivo e tudo isso implica na linguagem, na vida.

 

DA – Falando em Portugal, do tempo em que você reside na terra-mãe, qual a sua impressão sobre a relação dos portugueses com a literatura? Especificamente, no que diz respeito ao interesse pela leitura e por eventos associados ao contexto literário, levando em conta também a maneira que enxergam a literatura brasileira? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Como disse acima, cheguei a Portugal em janeiro de 2017. Desde o início, comecei a ler autores portugueses; muitos dos quais não temos acesso no Brasil.  Durante um período li com intensidade escritoras portuguesas ​de uma prosa visceral, entre as quais Maria Velho da Costa, Hélia Correia, Agustina Bessa-Luis, Gisela Ramos Rosa, Maria João Cantinho, Teolinda Gersão, Lídia Jorge, Maria Teresa Horta, Maria Gabriela Llansol, Inês Lourenço, Maria do Rosário Pedreira, Sophia de M. B. Adrensen, Maria Judite de Carvalho e Ana Margarida de Carvalho. A literatura portuguesa é riquíssima, e ainda ​há um fértil terreno ficcional e poético a se explorar.  Percebo que a Clarice Lispector foi eleita como um cânone da literatura brasileira. Encontramos nas livrarias de Portugal os nossos clássicos e alguns contemporâneos, mas poderia haver um interesse maior já que falamos a mesma língua​. Percebo que o acesso à literatura brasileira, em Portugal, ainda é pontual. A música brasileira, sim, é muito apreciada pelos portugueses​ e tem histórica difusão.

 

DA – Seu marido, o escritor Ronaldo Cagiano, acaba de lançar seu segundo livro por uma editora portuguesa. Como funciona essa relação de autores brasileiros com selos de livros em Portugal? É mais fácil, para um escritor brasileiro, lançar um livro em Portugal que no Brasil? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Mais fácil no Brasil. Não acredito que haja uma boa abertura para os autores brasileiros, as editoras portuguesas não estão de braços abertos para a literatura do Brasil​, há resistência ou desinteresse, que não é de hoje, uma espécie de mecanismo de defesa contra a bibliografia brasileira, que é enorme. Há algumas pequenas editoras que têm publicado brasileiros, sobretudo na poesia, mas são poucas. Caso o livro tenha tido uma boa repercussão no mercado nacional, a possibilidade é maior. Em editoras de médio e de grande porte é conveniente que o autor tenha contrato com algum agente literário​, pois na Europa são esses profissionais que induzem os editores a publicá-los, diferente do Brasil, onde ainda funciona o contato autor-editor. A figura do agente literário no Brasil é quase dispensável para os autores novatos ou ainda não reconhecidos pelo mercado; funciona bem para os já estabelecidos. Por outro lado, a publicação de portugueses no Brasil tem sido facilitada, porque há incentivos, como a DJLAB (Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas), que apoiam e incentivam a publicação no Brasil de obras de autores portugueses e de países africanos da mesma língua. Há também o nosso franco interesse pela literatura portuguesa.

 

DA – Na condição de autora, e também de leitora, o que mais lhe impactou na maneira de tratar o escritor e o livro no continente europeu? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Ainda me sinto prematura para responder esta questão. Mas notei pequenos detalhes, por exemplo, quando ocorrem os lançamentos​, os livros são analisados e apresentados para o público e para o autor. É um momento de muito respeito e de celebração da literatura. Não é apenas um encontro para autógrafos. ​Essa é uma prática tradicional, em que um livro não é apenas um acontecimento social, mas uma oportunidade de se conhecer autor e obra e, para tanto, antecede-se uma mesa, com algum convidado apresentando a obra do autor em lançamento. Nas Feiras do Livro, os autores põem-se disponíveis e próximos dos leitores, é fácil o acesso. Outra observação importante é que frequento muito as bibliotecas, estão espalhadas pelas freguesias, e é muito bom vê-las sempre cheias, principalmente de estudantes.

 

DA – De volta aos debates que estimulam seus contos, recentemente tivemos uma eleição para presidente do Brasil, na qual muitos artistas abriram seus votos via rede social. Você acha que é dever do escritor se manifestar publicamente, defendendo uma bandeira ideológica, ou a política pertence mais ao cidadão que ao artista? 

ELTÂNIA ANDRÉ – A arte acaba exigindo um embate com o mundo e sabemos que a política interfere diretamente na vida das pessoas. Na verdade, a literatura também é um ato político. Não estou falando de política partidária. Quanto aos autores, admiro os que estão ao lado dos direitos humanos, da igualdade social, da diversidade, admiro os que lutam, os que se expõem. E estranho os que se isentam ou aqueles que escolhem ficar ao lado contrário, como o do fascismo. Cidadão e artista, em sua essência, são os mesmos, não há como separar um do outro. Respeito, entretanto, o modo que cada um encontra para se manifestar.

 

DA – Dos dramas tratados em seu livro, como o poder da leitura pode incidir de maneira a pôr um fim? 

ELTÂNIA ANDRÉ – Não há como pôr um fim, ​esse ideal seria uma utopia. Há retrocesso​s que avacalham com a ​civilização e a humanidade – já era tempo de igualdade e paz, mas a irracionalidade do homem não deixa. No Brasil, o desafio é enorme e há um longo caminho pela frente. Muitos dos dramas podem ser tratados com adequadas políticas públicas,​ como por exemplo ​a violência urbana. E o acesso ao conhecimento e aos livros são ferramentas poderosas.  Mas diante do golpe de 2016 e o resultado da eleição deste ano, como ser otimista?

 

DA – Qual o maior duelo em ser um escritor no Brasil? É possível sair vencedor, de alguma forma?  

ELTÂNIA ANDRÉ – Os meus são vários, e todos passam pela angústia. Primeiro e constante é luta solitária com o que borbulha desordenadamente dentro e o que respinga na folha branca, depois burilar, lapidar – sempre fica um resto que não sabemos bem se terá fim, mas tudo bem, ele é ameaçador, mas produtivo. Desse duelo pessoal, passamos a ansiedade pós-criativa: encontrar editora, prazos que se prorrogam, lançamento, expectativas quanto à receptividade e um montão de eteceteras. Não há vencedores muito antes de Auschwitz.

 

Sérgio Tavares nasceu em 1978. É autor de “Queda da própria altura”, finalista do 2º Prêmio Brasília de Literatura, e “Cavala”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. Alguns de seus contos foram traduzidos para o inglês, o italiano, o japonês e o espanhol. Participa da edição seis da Machado de Assis Magazine, lançada no Salão do Livro de Paris.

 

 

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