Roberto Dutra Jr.
Acaso ao horizonte
as linhas se perdem
nos homens.
Linhas
e horizonte de homens.
Homens:
linhas e horizontes
do tear.
Ao acaso as linhas cruzam-se.
A velha fiava ao sereno
linhas, horizontes e homens.
Ao cerrar-se o fio
quiséramos todos, ser
carretel.
***
QUANDO FIZER UM POEMA:
desfiar pedras
alimentar tigres
ordenhar deles
o medo
e constelar
ar
……….a
……………….ar
o frêmito febril
em alumbramento
***
JANELA
Preso no horizonte
eu mesmo
Não sei se te vejo
ou às próprias grades
da cegueira.
O sol se pôs
Vivi na sombra
do não ser-me.
***
POEMA ÁRIDO
Persigo as palavras
fundo, na memória das pedras,
ruído dos pássaros.
A pele descarnada das botinas
traduzindo-se em deserto.
Quando há um poema
o deserto sou eu.
***
NUDEZ
A cada minuto
perder o fio
diáfano da manhã
contemplando
sua
lânguida luz
***
O PEIXE
não tem nome
………………………………..[o peixe]
assim o chamo
contrário à sua vontade
escorrega das mãos
a verdade de escamas metálicas
um salto apenas
………………………………..[o peixe]
pura profundidade
tudo mais é engano
infenso drama
mergulha além do olhar
longe demais – fria chama
sem voz
nada diz
………………………………..[o peixe]
flutua
essencial e inominável.
Roberto Dutra Jr. é um neurótico social como todo brasileiro de cidade grande. Adora literatura, mas as palavras não fazem mais sentido. Mestre em Letras, tem um livro publicado e diversos artigos de caráter acadêmico e crítico publicados. Foi editor de revista acadêmica, contribuiu para jornais e revistas literárias no Rio de Janeiro e tem um seríssimo flerte com a música. Adora gatos e poemas, que movem-se na penumbra e nunca revelam-se inteiramente.
E eu