Janela Poética II

Roberto Dutra Jr.

 

Foto: Pedro Alles

Foto: Pedro Alles

 

Acaso ao horizonte
as linhas se perdem
nos homens.

Linhas
e horizonte de homens.
Homens:
linhas e horizontes
do tear.

Ao acaso as linhas cruzam-se.

A velha fiava ao sereno
linhas, horizontes e homens.
Ao cerrar-se o fio
quiséramos todos, ser
carretel.

 

 

***

 

 

QUANDO FIZER UM POEMA:

 
desfiar pedras
alimentar tigres
ordenhar deles
o medo
e constelar
ar
……….a
……………….ar
o frêmito febril
em alumbramento

 

 

***

 

 

JANELA

 
Preso no horizonte
eu mesmo
Não sei se te vejo
ou às próprias grades
da cegueira.

O sol se pôs
Vivi na sombra
do não ser-me.

 

 

***

 

 

POEMA ÁRIDO

 
Persigo as palavras
fundo, na memória das pedras,
ruído dos pássaros.
A pele descarnada das botinas
traduzindo-se em deserto.

Quando há um poema
o deserto sou eu.

 

 

 

***

 

 

NUDEZ

 
A cada minuto
perder o fio
diáfano da manhã
contemplando
sua
lânguida luz

 

 

***

 

 

O PEIXE

 
não tem nome

………………………………..[o peixe]

assim o chamo
contrário à sua vontade
escorrega das mãos
a verdade de escamas metálicas
um salto apenas

………………………………..[o peixe]

pura profundidade
tudo mais é engano
infenso drama
mergulha além do olhar
longe demais – fria chama
sem voz
nada diz

………………………………..[o peixe]

flutua
essencial e inominável.

 

Roberto Dutra Jr. é um neurótico social como todo brasileiro de cidade grande. Adora literatura, mas as palavras não fazem mais sentido. Mestre em Letras, tem um livro publicado e diversos artigos de caráter acadêmico e crítico publicados. Foi editor de revista acadêmica, contribuiu para jornais e revistas literárias no Rio de Janeiro e tem um seríssimo flerte com a música. Adora gatos e poemas, que movem-se na penumbra e nunca revelam-se inteiramente.

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1 comentário

  1. E eu

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